Segundo a governadora, neste mês de janeiro, em seu próximo aniversário, Belém vai ganhar do Governo do Estado um presentão: 26 infocentros, em diversos bairros. Ou espaços em que a população, especialmente a de baixa renda, terá acesso gratuito à internet em alta velocidade.
É o que o Governo petista classifica como “política estruturante”. Ou, como prefere a governadora Ana Júlia Carepa, os frutos da mudança.
A governadora falou ainda sobre Belo Monte, a relação do Pará com a Vale, os projetos de verticalização das riquezas paraenses, a ameaça de divisão do estado, kit’s escolares, MST, saúde, segurança pública, as acusações de nepotismo, as relações com o PMDB, fez, em suma, um longo balanço destes três anos de Governo.
Confira os principais trechos da entrevista à jornalista Ana Célia Pinheiro.
Como é que a senhora avalia esses três anos de governo?
Ana Júlia: Quero dizer que neste momento estou feliz porque, depois de três anos de governo, podemos colher os frutos da mudança. E as mudanças, no nosso estado, precisavam ser estruturantes. Quando você fala em mudar, é reconstruir o Estado, em todas as suas áreas. Antes, quem governou este estado por mais de uma década, governou com a concepção do Estado mínimo. E nós entendemos que o papel do Estado, além de atender às questões básicas da população, é também o de fomentar o desenvolvimento – a geração de emprego, a distribuição de renda. A crise mundial comprovou que essa tese está correta. Se não tivesse instrumentos públicos para fomentar a economia privada, o Brasil teria sofrido muito mais na crise econômica. Pudemos passar mais rápido por ela porque temos um Estado forte, uma presença forte de bancos públicos, como o Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES. Então, no Pará, essa mudança exige tempo, porque a utilização dos recursos naturais para gerar emprego e renda não se faz da noite pro dia. É a reconstrução daquilo que foi literalmente abandonado. E não porque alguém resolveu dizer: “ah, vamos abandonar a saúde, a educação, a segurança pública porque não temos recursos para isso”. Mas porque era a defesa do ideário político de um Estado mínimo.
Mas os tucanos alegam que pegaram o estado sucateado e que o reconstruíram e estruturaram para o desenvolvimento econômico: estradas, energia elétrica. Dizem que avançaram em vários aspectos, inclusive acabando com o “aluno-jacaré”. Não foi esse o cenário que a senhora encontrou?
Ana Júlia: Não. Podemos dizer o seguinte: teve a Alça Viária; é uma obra nova e não posso negar que é importante. Agora, para quem passou doze anos, passou dez anos sem fazer concurso para a Polícia Militar? Encontrei a segurança pública completamente sucateada; encontrei as escolas sucateadas. Não estou fazendo uma pequena reforma em mais de mil escolas – e já reformamos 650. Estou é fazendo uma reconstrução, porque as escolas têm de ser equipadas. Tenho de mudar o mobiliário, recuperar o telhado, construir laboratório, quadras esportivas, ligar na internet. Então, que reconstrução é essa? Reconstrução quem está fazendo sou eu! Só em termos de viaturas para a Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros já adquirimos mais de 1.100, entre carros, motos e lanchas.
Mas dá para recuperar o tempo perdido na segurança pela falta de concursos e de investimentos?
Ana Júlia: Nós estamos recuperando isso. As pessoas entendem que a violência é um fenômeno nacional, e até mundial. Mas as pessoas também percebem que está havendo um combate maior à violência, uma defesa da segurança pública, seja na ampliação do efetivo, seja em relação às viaturas e equipamentos. Quando eu assumi, havia, na Seccional do Comércio, apenas um colete à prova de balas para quatro policiais: tinha que tirar no palitinho para ver quem é que ia pra rua com um colete à prova de balas. E, detalhe: muitos dos coletes existentes naquela época estavam com a validade vencida. Hoje, o policial tem o colete, o armamento, a munição. É uma situação completamente diferente. No início deste ano, entreguei uniformes para os bombeiros, que, há dez anos, não recebiam nem uniformes, nem capacetes. Foi essa a realidade que encontrei. Então, na verdade, tinha um governo de propaganda – era muita propaganda.
Mas o PT também não faz muita propaganda? Os gastos do governo também não são expressivos?
Ana Júlia: Pelo contrário: são ínfimos. E muito menos do que o necessário, porque você precisa prestar contas à sociedade, para ela saber o que está sendo feito. Acho até que falamos muito pouco para a sociedade sobre o que estamos fazendo. Agora é que estamos ajustando essa situação, para a população saber as tantas obras que temos feito. É reconstrução na segurança pública, na saúde, na educação. E não só de reconstruir as escolas, mas, de levar internet, capacitar educadores. Já temos 25 mil educadores que participaram de cursos, desde o início do nosso governo.
Mas isso dá voto?
Ana Júlia: Não estou preocupada… Não posso ser uma governante… No dia seguinte à minha eleição, eu disse que não faria um governo “melhorzinho”, mas, um governo de transformação. Então, não posso me guiar pela única lógica da eleição. Tenho de me guiar pela lógica de que estou transformando o estado, cuidando das pessoas. É claro que se compreendo que grande parte da sociedade acha que esse é o melhor projeto, que ele está no rumo certo, quero que ele continue; que as mudanças continuem acontecendo. Mas não tenho dúvida de que questões como essas mudam, sim, a vida das pessoas.
A senhora não acha que essa pulverização das obras e a falta de obras grandes para “vender” ao eleitor colocam em risco a sua reeleição?
Ana Júlia: Não, porque as pessoas entendem que as nossas maiores obras são… Vou inaugurar amanhã uma estrada de doze quilômetros, um estádio de futebol, que não é o Mangueirão. Vou entregar uma moto e uma viatura de polícia. Mas o povo da cidade está tão feliz, que a obra maior que a gente inaugura é o sorriso das pessoas. A gente colhe sorrisos, a alegria das pessoas quando elas recebem um benefício. A minha maior alegria é ver, por exemplo, um jovem beneficiado pelo programa Bolsa Trabalho, através do qual 15 mil jovens já conquistaram emprego com carteira assinada. Essa é a nossa maior obra! A nossa maior obra é os 8.500 jovens que recebem o Pró-Jovem urbano, em 20 municípios do Pará. E nós combinamos isso a grandes obras, sim. Por exemplo, destravamos o Pará em relação a questões em que o Estado não se preparou, como a questão ambiental e agrária. Destravamos o Pará em relação a obras que há 19 anos estavam entravadas, como essas do “Ação Metrópole” – que são necessárias para o trânsito da Região Metropolitana de Belém e que sou eu que estou transformando em realidade. Antes de ser governadora, fui ao presidente Lula e à ministra Dilma Rousseff para conseguir realizar um sonho do povo paraense. Somos a maior província mineral do mundo, mas o nosso minério é exportado de forma primária; no máximo, semi-elaborado. E, para que possamos verticalizar o minério, trazer uma siderúrgica grandiosa para cá, precisamos contar, sim, com o apoio do presidente Lula e da ministra Dilma. Então, destravamos obras como as eclusas de Tucuruí, a BR-163 (Santarém-Cuiabá), a pavimentação da Transamazônica, a Hidrovia Araguaia-Tocantins, a ampliação do porto de Vila do Conde, o porto de Marabá, que é um convênio de mais de R$ 70 milhões e que está na fase de elaboração do projeto executivo. Isso é uma obra estruturante que vai gerar milhares de empregos.
Pois é, mas é aí que se fala: vários desses projetos – eclusas, BR-163 – são recursos federais. Cadê, então, o dinheiro do estado do Pará para investimento?
Ana Júlia: Olha, deixa eu te dizer: primeiro, me sinto muito feliz, uma governadora muito competente, pelo fato de estar trazendo obras importantíssimas para o estado, que estavam, há muito tempo, paralisadas e que agora estão acontecendo. Então, precisou ter competência e peso político para trazer essas obras. Segundo: só em Marabá, temos mais de R$ 50 milhões, entre a desapropriação da área e todas as etapas do Distrito Industrial; a contrapartida do porto de Marabá, que é alta, além da própria desapropriação da área do porto; os recursos para a revitalização do Distrito Industrial, que são mais de R$ 13 milhões. Portanto, é um governo que, além de investir com recursos próprios, tem a capacidade de buscar recursos federais. E veja: várias das obras que os meus adversários propagandeiam, também não são do Governo do Estado – são federais. O aeroporto, por exemplo, é recurso federal, é recurso da Infraero. Então, pelo contrário: nós estamos investindo mais do Tesouro Estadual, em todas as áreas. E, ao mesmo tempo, estamos tendo a competência de atrair investimentos federais para o nosso estado. Isso é mudança estruturante. Conseguimos uma solução para o embargo da carne do Pará, que só foi possível por causa do papel do Governo do Estado. Quando o Ministério Público indicou que não se comprasse a carne do Pará, fizemos mais de uma dezena de reuniões com ele. Agora, graças a quê? Já tínhamos mandado para a Assembléia Legislativa, desde 2007, o projeto de regularização fundiária. Já tínhamos feito, em 2008, o cadastro ambiental rural. Já havíamos lançado o plano de proteção à floresta, com a meta de redução de 80% do desmatamento ilegal até 2020. Já tínhamos feito o Zoneamento Econômico-Ecológico da região Oeste e já íamos iniciar as audiências públicas, que agora já foram todas as feitas, para o Zoneamento Econômico-Ecológico da borda Leste.
Muitas dessas iniciativas não vêm ainda dos tempos dos tucanos, como é o caso do Zoneamento Econômico-Ecológico?
Ana Júlia: Se montou o macro Zoneamento Econômico-Ecológico. Veja bem: só posso alterar a reserva legal, que hoje é de 80% em toda a Amazônia, depois que fizermos o Zoneamento Econômico-Ecológico na escala de 1 para 250 mil. É isso que o Governo do Estado está fazendo. Contamos com o apoio do Governo Federal? É claro. O presidente Lula assinou um decreto que permitiu esse zoneamento na escala de 1 para 250 mil, que é uma escala mais detalhada, que permite que a reserva legal seja alterada, nas áreas já desmatadas, de 80% para 50%, que é o que vai ocorrer em quase toda a borda Leste do estado, porque é uma área que já foi quase toda desmatada, mas que vai ter recuperação de reserva legal. Então, essa questão pode ter começado com o macro-zoneamento. Mas, o que terá efeito prático, inclusive para a vida do cidadão, é isso que estamos fazendo. E outra coisa: cadê a regularização fundiária? Cadê o cadastro ambiental rural? Cadê a regularização ambiental? Hoje, o mundo inteiro questiona como é que cada sapato, cada roupa, cada alimento é produzido. O mundo quer saber se isso é feito de forma sustentável, principalmente num estado da Amazônia.
Essa redução da reserva legal de 80% para 50% não vai na contramão do mundo?
Ana Júlia: Essas áreas não têm nem 50% de reserva. Então, pelo contrário: as pessoas vão é recuperar a reserva legal, elas vão plantar. O decreto que assinamos diz de que forma as pessoas podem recuperar a reserva. Queremos fomentar que elas façam isso e ganhem dinheiro ao mesmo tempo. E quando você refloresta, com qualquer que seja a espécie, você está seqüestrando carbono da atmosfera – é uma forma eficiente de contribuir para o clima do planeta. Então, isso é mudança estruturante. Se hoje estamos podendo vender a nossa carne e até ampliamos a exportação para a Venezuela, é porque fizemos o dever de casa. E também porque o Governo do Estado é mais do que um governo que reconstrói as políticas públicas: é um governo que fomenta a economia do nosso estado; que ajuda os produtores privados a inclusive ampliar os seus empreendimentos. E como? Fortalecendo essa relação com a Venezuela. Antes se achava que isso não era necessário, que isso não é papel do Estado. Eu compreendo que isso é, sim, papel do Estado – não vou substituir o produtor! Eu apenas estou ajudando a que esses produtores tenham uma melhor relação. A gente ajuda nas exportações e também vamos importar produtos que não temos aqui. Por exemplo: precisamos de fertilizantes, que não temos aqui, mas, temos na Venezuela. Então, só estou colocando pra você que isso é mudança estruturante. Vou entregar agora em janeiro, no mês de aniversário de Belém, 26 infocentros – só em Belém. Vou disponibilizar cinco áreas públicas com sinal livre de internet em Belém.
Quantas pessoas serão atingidas por esses infocentros?
Ana Júlia: Milhares. E em vários bairros. Entregaremos 26 infocentros no Tapanã, Icoaraci, Coqueiro, Condor, Val de Cans, Sideral, Outeiro, Benguí, Reduto, Cremação, Pedreira, Curió-Utinga, Barreiro, Marco, Telégrafo, Terra Firme, Tucunduba, Marambaia. E vou anunciar mais oito infocentros, ainda no primeiro semestre, para o Tapanã, Campina, Cremação, Guamá, Mangueirão, Telégrafo e Jurunas.
Cada infocentro desses tem capacidade para atender quantas pessoas?
Ana Júlia: Mais ou menos 500. E veja que serão 34 infocentros ao todo. Isso sem contar que vou colocar a Orla de Icoaraci, a praça do Benguí, a praça do Jaú, na Sacramenta, o Ver o Rio e a Estação das Docas com sinal livre de internet. Você vai chegar lá com o seu celular e vai poder acessar a internet. Então, na verdade, vou atingir todo mundo. O que queremos é levar a oportunidade que o acesso à internet pode causar na vida das pessoas. Já temos, hoje, 16 cidades digitais – e já estou contando Belém. São 16 cidades que já têm áreas públicas livres de internet: Santarém, Altamira, Itaituba, Marabá, Santa Maria, Rurópolis. Santarém, por exemplo, vai ser a primeira cidade completamente digital – ainda em 2010, vou abranger toda a área urbana de Santarém. Já temos, hoje, mais de 500 escolas interligadas à internet. E vamos ter mais ainda no ano que vem. Isso tudo é mudança estruturante.
Mas, concretamente, o que é que a internet muda na vida de uma pessoa que está morrendo de fome, num estado em que há milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza?
Ana Júlia: Para o cidadão que está morrendo de fome temos mais do que o sinal da internet – temos uma série de políticas públicas. Temos o Bolsa Trabalho, o Pró-Jovem urbano. Temos, agora, R$ 40 milhões que conseguimos o programa de inclusão produtiva. São mais de 11 mil famílias – e a grande maioria recebe bolsa família – que terão, durante três anos, apoio para se capacitar e se organizar em cooperativas e associações. Esse recurso também vai servir para a aquisição de equipamentos ou insumos necessários a essas cadeias produtivas. Vamos trabalhar as pessoas que já atuam na cadeia produtiva da pesca, a população de baixa renda; as que catam caranguejo, inclusive atendendo às exigências do Ministério Público e da Vigilância Sanitária; as pessoas que atuam na colheita do açaí; aquelas que atuam na coleta e na reciclagem de lixo. E, com certeza, ao final desse tempo essas pessoas não precisarão do Bolsa Família. Então, a internet lhe dá uma série de possibilidades de informação e de acesso a serviços públicos. Teremos, pela primeira vez, um infocentro em uma aldeia indígena – eu inaugurei em Itaituba. E mais: vai chegar ensino médio, em 2010, pela primeira vez na história do Pará, para as aldeias indígenas – só havia o fundamental. Quer dizer: isso é mudança estruturante, isso é mudança profunda, que tem conseqüência na vida das pessoas. Como eu digo: não se preparar para o desenvolvimento sustentável é não ver que o futuro está nesse caminho.
Mas o Pará continua como mero exportador de matéria-prima. Você pega a pauta de exportações do Pará e ela é toda de minério e madeira, sem nenhum, ou quase nenhum beneficiamento. Quer dizer: há 16 anos se ouve esse discurso de mudança estruturante no estado. Mas você não tem mudança real do perfil produtivo…
Ana Júlia: Está tendo agora. Desde 2007, por exemplo, estamos fabricando vergalhão de aço – e a nossa indústria da construção civil já está utilizando o aço produzido a partir do nosso minério de ferro. Você quer ver mais uma ação estruturante do Governo do Estado? Convencemos o Governo Federal da necessidade de energia elétrica, no leilão de Belo Monte, para os nossos produtores. Então, a bauxita que está saindo de Juruti gera emprego? Gera. Mas está indo para o Maranhão para ser transformada em alumínio. Mas ela vai poder ser transformada em alumínio aqui mesmo no Pará. Então, com a Alpa (a Alumínios do Pará, siderúrgica que a Vale vai implantar em Marabá) vamos fabricar placas de aço. E propusemos a Vale, e mais para a Aço Cearense, que é o grupo ao qual pertence a Sinobras (Siderúrgica Norte Brasil S/A) que já tem uma fábrica de vergalhão de aço em Marabá, para que se associassem, formassem uma empresa. Elas toparam. Chama-se Alinja a empresa que elas vão instalar e que já vai fazer parte da estrutura da Alpa. Então, não vamos mais simplesmente exportar matéria-prima. Só que a fábrica tem de ser construída, para depois começar a funcionar. Quer dizer: nem que eu seja eleita novamente, vou ver a transformação da bauxita em alumínio. Por quê? Porque vai ter que primeiro fazer a hidrelétrica de Belo Monte – a bauxita só se transforma em alumínio a partir da energia elétrica; ela é um processo eletro-intensivo. Então, levou quantos anos para mudar a base produtiva do Brasil? E mudou de uma região – e nós estamos mudando, agora, no Pará. Aquela história de projeto xis e projeto ípsilon, que estava na propaganda, que tinha nos outdoors… Eu não coloquei nos outdoors – mas ele passou a ser realidade. A regularização ambiental e fundiária passa a ser realidade. O Ação Metrópole saiu do papel e passa a ser realidade. Os infocentros e o sinal de internet livre são realidade. A reconstrução dos hospitais públicos, a descentralização, inclusive, das ações de saúde. E vamos colocar para funcionar, já neste ano de 2010, o acelerador linear do Ofir Loyola, que, quando assumi o governo, estava, há três anos, nos porões da Secretaria de Saúde. Fizemos a obra necessária a essa instalação, uma obra que, desde o projeto, teve de ser acompanhada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear. Ela já está na fase final dos testes e, em janeiro, deve ser entregue à população. Quer dizer: nós destravamos o estado do Pará. E o estamos transformando de forma real.
Então, como é que a senhora explica as pesquisas em que, segundo se diz, a sua rejeição estaria altíssima?
Ana Júlia: Eu não brigo com pesquisa. Mas, tem pesquisa pra todo gosto… Tem uma que eu já vi o formulário e que é interessantíssima… Ela faz dez perguntas, todas falando mal de uma liderança política, e outras dez falando bem de outra liderança política. Depois, pergunta: quem você acha que tem de ser candidato a governador? Tem esse tipo, mas, como eu digo, não brigo com pesquisa. Apenas quero dizer que as pesquisas têm a sua importância; não nego isso. E que nós reconhecemos, também, erros. Reconhecemos que foi difícil para o PT assumir um governo na Amazônia, no estado mais populoso e com as maiores complexidades e dificuldades da Amazônia. O Pará não tem UMA prioridade: tem de ter várias. Porque é um estado com tantas situações problemáticas, emblemáticas e conflituosas que temos de atacar várias questões ao mesmo tempo. Então, é assim que eu me sinto: feliz. Respeito pesquisa. Mas, se dependesse de pesquisa eu não seria governadora.
Mas nas pesquisas do PT a sua rejeição é assim tão alta?
Ana Júlia: Não, é claro que não.
Ela está em quanto?
Ana Júlia: O Ulysses Guimarães já dizia que a política é como nuvem: tá de um jeito hoje, mas, daqui a pouco, está diferente. Então, eu não nego isto: nós também cometemos erros – mas corrigimos os erros. Acho que o importante é você detectar, é você compreender que tem erros, e que precisa fazer de forma diferente.
Quais foram os principais erros, seus e do PT?
Ana Júlia: Primeiro o PT teve dificuldade de ser governo, né? Os militantes do PT foram acostumados, durante muito tempo, a ser oposição. Então, eles têm dificuldade de ser governo. Querem que a gente trate as questões de Estado, muitas vezes, como questões partidárias. Hoje, eu sinto na militância um maior envolvimento, inclusive em querer conhecer melhor as ações de governo. Como o estado é muito grande, ele não quer saber só do município dele. Quer saber dos outros municípios, porque ele sabe que essa é outra mudança significativa do nosso governo: o governo que quebrou paradigmas, que fez com que as políticas públicas chegassem a todas as regiões. Porque quando faço uma política pública como essa, em que vou mudar estruturalmente a região Oeste do Pará; quando vou mudar estruturalmente a região Sul/Sudeste do Pará; quando vou mudar estruturalmente a região Nordeste do Pará com um projeto que vamos anunciar agora em janeiro, que é também de utilização dos nossos recursos naturais, isso, essas mudanças estruturais que estamos fazendo na região, é também um trabalho de manter o Pará da forma como ele está. Porque era natural que as pessoas, nas regiões, nos municípios, se sentissem abandonadas, porque as políticas públicas não chegavam lá. Já reformei e construí mais de 50 delegacias neste estado – em três anos! Quer dizer: a sensação que tenho quando ouço os meus adversários que já governaram este estado durante tanto tempo falar, é que as delegacias estavam maravilhosas, as escolas estavam lindas, os hospitais estavam funcionando muito bem… Em suma: parece que estava tudo super bem e que, no dia primeiro de janeiro de 2007, tudo caiu, tudo desmoronou. Ora, o povo não é bobo, sabe que isso não é verdade. Nós encontramos este estado desestruturado!… Parece até que tinha colete, viatura pra todo mundo, na polícia; que tinha efetivo policial… Meu Deus!…
Mas já há resultados, por exemplo, em termos de indicadores de violência? E, na área de saúde, o que é que mostra uma mudança qualitativa de lá pra cá?
Ana Júlia: Na segurança pública, todos os indicadores mostram, neste ano, a diminuição dos assaltos, com violência, inclusive.
A senhora se lembra de cabeça?
Ana Júlia: Não. Eu posso te conseguir esses dados, sem problema nenhum, e te enviar. Mas, o secretário de Segurança, na última reunião do secretariado, falou sobre isso. E posso te garantir que o número de equipes do Programa Saúde da Família, por exemplo, foi ampliado. Eram pouco mais de 649 equipes – e hoje são 838 equipes, em 137 municípios. Veja bem: botei para funcionar os hospitais. Já temos quimioterapia em Santarém e, a partir de janeiro, vamos ter, também, radioterapia. Como vamos ter em Tucuruí e no Hospital Barros Barreto. Isso é uma coisa concreta, real. E outro ponto para o Governo do Estado: conseguimos qualificar o Ofir Loyola como hospital de referência, um hospital-escola, pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Educação.
Então, como é que a senhora explica as queixas que vêm, hoje, lá do Ofir Loyola, inclusive da presidenta da AVAO, Ana Klautau?
Ana Júlia: Tem muito mais questões politiqueiras nesse processo do que questões reais. Nós temos, também, os dados de pesquisa das pessoas que são atendidas pelo Ofir Loyola – e tem mais de 80% de aprovação ao atendimento. Eu atendo pessoas do Pará, de parte do Maranhão, do Amapá, de parte do Amazonas e do Tocantins. Ou seja, o Ofir Loyola é uma referência. E tanto é uma referência que agora será um hospital-escola. Veja: estamos descentralizando o atendimento e, a partir de 2010, vamos ampliar a formação de profissionais. E tudo isso é um trabalho que está surgindo agora o resultado. Por exemplo: além de estarmos instalando o acelerador linear, compramos um tomo simulador e um aparelho para braquiterapia, para alguns tipos específicos de câncer. Estamos equipando toda a UTI do Ofir Loyola, com aparelhos de última geração. E o que foi que o INCA, o Instituto Nacional do Câncer, nos disse? Que precisávamos instalar o acelerador linear para eles trocarem a máquina de cobalto mais velha do Brasil, que é a do Pará! Mas por que é que não fizeram nada antes? – ela tem mais de 60 anos!… Então, coube a mim destravar todas essas questões. Vamos trocar a máquina de cobalto, vamos descentralizar… Por exemplo, o Barros Barreto. Em pouco tempo, logo no início de 2010, as máquinas já teriam condições de funcionar. O problema é que não há recursos humanos. E, apesar de ser um hospital federal, o Governo do Estado é que terá de enviar recursos humanos para lá, para atender oncologia. E não foi só descentralização nessa área oncológica. Por exemplo: hemodiálise. Inaugurei serviços de hemodiálise em Marabá, Ananindeua, Santarém, Altamira, Redenção, Castanhal e Marituba. Lembro que quando inauguramos em Marituba – inclusive uma sala muito grande; são mais de 20 aparelhos de última geração – o deputado federal Wladimir Costa disse que o pai dele faz tratamento de hemodiálise, numa clínica particular. Mas que os aparelhos da clínica particular não são tão bons e tão modernos quanto os que inauguramos em Marituba.
Mas essa é apenas uma ponta da questão. A Sespa, no seu governo, já vai no terceiro secretário – é um nó. A que a senhora atribui esses problemas na Saúde?
Ana Júlia: Você percebe que os problemas na saúde – e a gente assiste isso na imprensa – são nacionais? A primeira questão é esta: foi uma irresponsabilidade dos senadores. Se os três senadores do Pará tivessem votado a favor da CPMF, nós teríamos mais recursos para a saúde. Então, foi, primeiro, irresponsabilidade dos senadores do Pará, de votarem contra ter recursos para a saúde – num imposto que não atinge os mais pobres, diga-se de passagem. E que atinge as pessoas de acordo com o que elas ganham; é um percentual muito pequeno, essa é que é a verdade.
Até que ponto esse nó da saúde pode ser atribuído a essas máfias que historicamente dominam a saúde? Você teve troca-troca de secretários nas gestões tucanas e o PT enfrenta o mesmo problema. Até que ponto esses nós decorrem daí e até que ponto isso foi agravado pela presença do PMDB à frente da saúde do estado?
Ana Júlia: Olha, o problema da saúde é grave, nós reconhecemos isso, mas estamos destravando a saúde. E o que a Sílvia (Cumaru, secretária estadual de Saúde) está fazendo é dar continuidade a um trabalho. Não acredito que seja, vou dizer assim, vinculada direto qualquer situação à presença do PMDB. Seria uma coisa injusta até falar isso. Acho que tem problemas e tem uma concepção de saúde, que é nossa, que é muito do PT, que é o cuidado com a prevenção. Por isso nós ampliamos, de 649 para 838, as equipes do Saúde da Família. Agora, tem oposição, é claro. Imagine isto: um governo que estava há tantos anos, há mais de uma década, quando a gente muda as pessoas, isso tem reação. Como tem reação quando vou fazer regularização fundiária, quando vou fazer regularização ambiental; como tem reação porque a gente cumpre mandados da Justiça, por exemplo, de reintegração de posse, mas não o faz criando mais violência, com outros massacres. Quando assumi, tinham 173 de eu já cumpri mais de 200 mandados de reintegração. Hoje, tem menos de 50.
É muito difícil essa relação do PT com os produtores rurais paraenses, que têm, digamos assim, uma mentalidade arcaica?
Ana Júlia: Olha, eu diria que com uma minoria. Pelo contrário: acho que nós conseguimos quebrar um paradigma e mostrar aos produtores rurais que não apenas não temos nenhum tipo de preconceito, como estamos ajudando a que se regularizem, do ponto de vista ambiental e fundiário, e a melhorar a produção. A GTA (Guia de Trânsito Animal) eletrônica, a nível nacional, foi lançada no Pará e até 31 de dezembro teremos 80 mil propriedades georreferenciadas. Então, pelo contrário: tenho conversado com vários produtores rurais e eles estão muito agradecidos, porque reconhecem que o nosso governo fez o que muitos não fizeram. Hoje, a carne do Pará é referência no Brasil, porque você pode identificar se está tendo desmatamento ou não – coisa que em nenhum local do Brasil há condições de fazer. O governo Lula acabou de assinar um decreto semelhante ao do nosso Cadastro Ambiental Rural, que eu assinei em 2008! Ou seja, as nossas políticas públicas são referência, como é o caso do Navega Pará, que é um dos maiores programas de inclusão digital do país. Vários governos de outros estados já vieram ver como é que a gente está conseguindo levar internet de altíssima qualidade a lugares distantes.
Então, ironicamente, hoje o governo do PT tem mais dificuldade de relacionamento com o MST do que com os pecuaristas?
Ana Júlia: Eu diria que o Governo do Estado conversa com o MST, com a Fetagri, com a Fetraf, com os movimentos sociais. Agora, assim como tem aqueles pecuaristas que extrapolam, também há isso do lado dos movimentos sociais. Então, o nosso governo não discrimina ninguém, mas, não aceita excesso de ninguém. Sou governadora do Estado, tenho de manter a ordem. Tenho de manter a condição de produção daqueles que querem fazer isso de forma legal. Portanto, aqueles que extrapolam, que agem em desacordo com a lei e querem impedir o direito até do cidadão comum, do trabalhador de ir e vir, simplesmente porque o Governo Federal, através do Incra, não resolveu o seu problema, eu também não posso aceitar. A gente tem atendido como nunca antes na história deste estado inclusive a agricultura familiar: temos mais de R$ 20 milhões e mais de 300 convênios com associações, com sindicatos. Já distribuímos mais de 170 patrulhas agrícolas.
A senhora falou em mudar o perfil produtivo do estado e também em preservação. Como é que se encaixa Belo Monte nessa história toda, com todas as críticas a esse projeto, em termos dos males ambientais e sociais que trará?
Ana Júlia: Já defendi Belo Monte e, quando senadora, até escrevi um artigo sobre isso. Mas, em que condições defendi Belo Monte? Defendi Belo Monte contanto que tivesse um projeto de desenvolvimento regional sustentável na região do Xingu – e isso nós conseguimos implementar. Defendo Belo Monte porque a energia hidrelétrica é uma energia limpa, é uma energia mais barata e vai substituir as termelétricas a diesel – essas sim, extremamente poluentes. Estamos fazendo isso, agora, no Marajó: estamos levando a energia da hidrelétrica de Tucuruí, uma energia limpa, para substituir as termelétricas a diesel. E além de defender o plano de desenvolvimento regional sustentável, defendo que todos os impactos de Belo Monte sejam mitigados ou compensados. E tenho defendido, junto às empresas, como defendi junto à Vale – e também em relação a Belo Monte – que quando elas cadastrem as pessoas para trabalhar nessas obras, que exijam que elas morem, no mínimo, há dois anos, no Pará. Já me acusaram de fazer reserva de mercado. E eu disse que, se for para defender o povo do Pará, faço, sim, reserva de mercado. Amo o povo brasileiro. Mas, em primeiro lugar, o povo do Pará.
A senhora tocou na questão do fluxo migratório. Como é que está a relação do Governo do Estado com a Vale, tendo em vista a atividade intensa dessa empresa, o baixo retorno que se tem e o crescimento populacional do Pará, em decorrência dos projetos dela?
Ana Júlia: Olha, a nossa relação com a empresa Vale é muito firme, mas, sem bravatas. Acho que o governo que mais conseguiu extrair da companhia Vale benefícios para o Pará foi o nosso. Conseguimos a concordância e a realização de uma siderúrgica, a Alpa – e eles, inclusive, já entregaram o estudo de impacto ambiental, o EIA/RIMA, à Secretaria de Meio Ambiente. Então, tivemos momentos de dificuldade nessa relação? Tivemos. E teremos sempre que a companhia Vale não compreender a importância do Pará. Hoje, essa relação melhorou muito, pela firmeza com que o nosso governo tem tratado, mas também com respeito a uma empresa que detém uma parcela significativa da economia. E o que nós queremos é que a Vale se insira na economia paraense, que dê apoio às ações do estado do Pará; que invista, também, na formação de recursos humanos no nosso estado e que essa formação seja feita para o povo daqui. Como eu falei: fazendo reserva de mercado, sim; exigindo que as pessoas morem e comprovem que moram há, no mínimo, dois anos no Pará. Ou seja, para o povo paraense – os paraenses de nascimento ou de coração. Então, fico muito tranqüila porque tenho uma relação respeitosa com a companhia Vale. E, ao mesmo tempo, uma relação de exigir, de não permitir que, de forma alguma, o Pará seja prejudicado.
Mas, por exemplo, nessa questão da siderúrgica da Vale, o estado do Pará teve de desapropriar o terreno. Como é que pode que o governo ainda tenha de desapropriar terreno para verticalizar a produção, em se tratando de uma empresa com uma isenção tão alta de impostos?
Ana Júlia: Mas nós estamos fazendo uma siderúrgica no interior do estado. Há quantos anos não acontecia um projeto como esse, no interior de qualquer estado brasileiro? Há muito tempo. Estamos trazendo isso porque é uma mudança estruturante no estado. O benefício não é só para Marabá: é para o estado do Pará inteiro – primeira coisa. Segundo, o benefício, é claro, será maior para a região, para todo o Sul e Sudeste do Pará. Então, é natural, assim como há incentivos fiscais para outras empresas que vêm se implantar no Pará. Não estamos dando incentivo só para a Vale. Na verdade, desapropriamos uma área para ser Distrito Industrial. Por quê? Porque acreditamos que aquela região se transformará num pólo industrial, a partir do minério. E não só a Vale, com a siderúrgica, irá se implantar, mas, outras empresas terão o mesmo incentivo. Então, é um incentivo que vale a pena, porque vai gerar milhares de empregos para o povo do Pará. Eu estava em Marabá, fui participar da premiação do Empresário do Ano, e foi anunciado, por exemplo, já graças à atração desses investimentos, um shopping center com duas torres, em Marabá, do mesmo tamanho do shopping Boulevard, inaugurado recentemente em Belém.
A senhora diz que o Governo do Estado está transformando o Pará, mas a sua rejeição é alta. Então, de quem é a culpa? É da imprensa?
Ana Júlia: Não coloco a questão de culpa. Mas, é óbvio que quando você tem um governo que setores da imprensa só querem mostrar o negativo no estado; quando tem pessoas que estavam encasteladas no poder; quando tinha um governo anterior, que se preocupava muito com poucos e se preocupava pouco com muitos, é claro que essa preocupação de muito com poucos beneficiava aqueles que têm poder, outro tipo de poder na sociedade. Então, é natural que sofra reação o meu governo. Mas, quero lhe dizer que essa questão de “tem rejeição”… Primeiro, que o que a gente tem não demonstra ser tudo isso. Pelo contrário: demonstra que estamos melhorando; estamos muitíssimo bem avaliados, inclusive em várias regiões do estado. Segundo, é lógico que precisamos comunicar melhor. Nós reconhecemos erros; não sou uma pessoa que não reconheça que também cometemos erros no meu governo. Não foi só na comunicação – esse é um dos erros. Então, agora mesmo fizemos mudanças na área de Comunicação, mudanças na Secretaria de Governo e em várias secretarias. Não tenho dúvida de que o resultado dessas mudanças está acontecendo. Vou entregar 26 infocentros de presente para o povo de Belém. Vou entregar cinco áreas públicas em Belém com sinal livre de internet. Vou entregar, no Guamá, dois mil títulos de autorização de uso da terra, que é uma parceria com o GRPU, mas que só é possível porque o Governo do Estado fez esse convênio, através do qual contratei pessoas – e um trabalho que o GRPU ia levar dez anos para fazer, ele está fazendo em menos de dois. Então, são políticas públicas que estão mudando a vida das pessoas. Vi, no final de 2007, no início de 2008, prefeitos que estavam numa situação de pesquisa muito pior do que a nossa – mas muito pior! – que foram reeleitos. Então, pesquisa é algo que você tem de ter como referência. Mas ela não é absoluta.
Mas muitos desses erros que a senhora admite não decorreram do fato de a senhora pertencer a uma corrente que não é majoritária no PT? A senhora não se deixou guiar demais pela DS (Democracia Socialista)?
Ana Júlia: Não. Acho que o meu acidente foi mais prejudicial, porque, no meu primeiro ano de governo, eu não podia quase andar no estado, não podia estar fiscalizando todas as obras. Fiz duas cirurgias, fiquei muito tempo na cadeira de rodas; utilizo uma prótese e até hoje tenho limitações. Então, acho que essa questão… A inexperiência, lógico, do PT em governar um estado desse tamanho não foi de uma tendência ou outra, mas, a nível geral.
Mas não houve dificuldade de relacionamento da DS até mesmo com as outras correntes do PT?
Ana Júlia: Não creio que essa dificuldade é que tenha levado ao cometimento de erros, porque eles independeram de correntes políticas. Pessoas da minha tendência política também cometeram erros e saíram do governo. Portanto, essa questão é absolutamente irrelevante.
A senhora nunca pensou em sair da DS?
Ana Júlia: Não.
Por quê?
Ana Júlia: Porque é a minha corrente, a corrente com a qual me afino. Agora, todas as pessoas do meu governo, inclusive da DS, sabem o seguinte: tenho tratado as políticas públicas de uma forma acima de correntes. Como a própria saúde pública: briguei com pessoas, pessoas da minha corrente política ficaram chateadas comigo. Por quê? Porque eu disse o seguinte: agora, a saúde pública não vai ser de partido nenhum. Ela vai ser algo que vou olhar com a atenção necessária, como uma mãe. Uma mãe que está com o filho doente, porque a saúde pública é algo que está realmente com muita dificuldade. Então, o filho doente tem de estar do lado, olhando o tempo todo. E nós estamos tirando esse filho da UTI, ele já está na enfermaria, já está para ter alta. Não que ela não enfrentará dificuldades. Olhe a situação do município de Belém e de outros municípios que já têm gestão plena: todos enfrentam dificuldade. Repito: a irresponsabilidade dos senadores do Brasil e de todos os paraenses que votaram contra recursos para a saúde contribui para a situação difícil da saúde pública. Mas, estamos mudando inclusive a concepção. Quando crio, pela primeira vez na história do Pará, um programa de apoio à Atenção Básica em que repasso recursos fundo a fundo aos municípios, estou ajudando a melhorar isso. Porque eu posso construir uma nova Santa Casa, como vou fazer; posso ter dobrado os leitos de UTI neonatal, como dobrei da Santa Casa; posso ter construído uma UTI adulto, como construí na Santa Casa, com aparelhos que grande parte dos hospitais privados do Pará não têm; posso ter criado um centro obstétrico na Santa Casa, mas 90% do sucesso do nascimento de um bebê depende do pré-natal. E quem faz o pré-natal é o município. E, reconhecendo a dificuldade dos prefeitos, resolvi colocar dinheiro direto na conta deles, independente se ele está inadimplente ou se é de partido A, B ou C.
Não é complicado ter na linha de frente do seu governo pessoas como o seu marido e o seu ex-cunhado?
Ana Júlia: Não. Acho que ninguém pode ser condenado – um militante político, um quadro político do nosso partido – porque, há doze anos, foi casado comigo. Acho que isso seria um absurdo. O que há é que algumas pessoas talvez quisessem que eu colocasse um militante do PSDB, do DEM. Mas, o meu governo é do PT e dos aliados. Então, não vou colocar quadros políticos de outros partidos. Aliás, todos os meus secretários, inclusive os novos, têm tido um papel importante, estão à frente de secretarias com projetos estratégicos. Então, isso daí é o mais profundo preconceito. Tenho documento do Ministério Público dizendo que sou a governante deste estado que mais combateu o nepotismo. Agora, como eu disse: não posso condenar um militante, um quadro do meu partido, deixar de aproveitar no meu governo uma pessoa competente simplesmente porque, há doze anos, ele foi casado comigo.
E como é que a senhora vê essas acusações de que, na verdade, são o seu ex-marido e o irmão dele que mandam no governo?
Ana Júlia: É mais um preconceito daquelas pessoas que não conseguem aceitar que é uma mulher que manda no Governo do Estado. Existe uma visão extremamente preconceituosa, porque nesta área, na área política, do poder, temos as mulheres em minoria. A política ainda é uma área onde o poder masculino prevalece. Então, existe um preconceito muito grande. Olhe: homem no poder, quando ele tem duas, três, quatro, cinco mulheres todo mundo aplaude, acha lindo e maravilhoso – a demonstração de que o cara é bom mesmo, né? Agora, uma mulher, porque um ex-companheiro… Não, aí é porque “fulano está mandando”. Quer dizer: não conseguem entender que quem manda neste estado é uma mulher, uma mãe, uma trabalhadora, uma arquiteta, uma bancária que ganhou o Governo do Estado e que está fazendo um trabalho de cuidar, em primeiro lugar, dos seres humanos, sem esquecer de transformar o estado do Pará.
Como é que está a relação do governo com o PMDB? Ainda dá para recuperar essa aliança?
Ana Júlia: Olha, num casamento a gente tem momentos muito bons e maravilhosos e tem momentos difíceis. Eu acho que a gente está num momento difícil. Não posso dizer que é um bom momento. Mas, por outro lado, também é um momento em que a gente está discutindo a relação (risos). É um momento em que estamos conversando. E o meu papel, neste momento, é dialogar com o PMDB. É dizer ao PMDB que o melhor para o PMDB é ficar conosco, porque há as mudanças que estamos implementando e que o PMDB também quer implementar no estado do Pará. Agora, é claro, vamos respeitar qualquer que seja… E vamos nos preparar para qualquer cenário. Mas a minha função, o que eu vou fazer, é o máximo possível fazer a aliança mais ampla. Vou trabalhar para isso.
Mas não seria complicado ter o PMDB como vice da sua chapa? Não seria uma espada apontada contra a senhora pelos próximos quatro anos?
Ana Júlia: Eu não me preocupo se… quem quer que seja de vice. Eu quero fazer uma chapa o mais ampla possível, onde o PMDB esteja representado na chapa majoritária, junto com o PT – e, se possível, outros partidos, também representados.
Mas o PMDB está batendo o pé pela vice…
Ana Júlia: Se for… Veja bem: quaisquer que sejam as funções em que o PMDB esteja, ele estará apoiando esse projeto de mudança no Pará. Então, nós estamos indo no mesmo rumo, na mesma direção. Isso é muito bom, não é negativo. Em qualquer lugar da chapa majoritária que esteja o PMDB, será bom para aqueles que querem que as mudanças continuem acontecendo no nosso estado. Porque assim como tem algumas lideranças que vêm conversar comigo, que querem logo fechar aliança, que ficam torcendo para fechar a aliança, até porque eles se lembram de que forma eles eram tratados em outro governo.
Mas a senhora prefere um vice do PR, por exemplo?
Ana Júlia: Eu prefiro que a nossa chapa seja uma chapa ampla. E isso não é uma concepção minha: é uma defesa do PT. Estou defendendo uma chapa ampla, mas o PT tem defendido que seja uma chapa ampla, também, e que se contemple mais do que dois partidos na chapa majoritária.
Mas a senhora, com vários anos de política, vinda desde a vereança, vendo essa questão toda, a senhora acha que é possível ter do mesmo lado PMDB, PR e PTB, com todas as divergências que eles têm demonstrado?
Ana Júlia: Claro que é possível! Todos fazem parte da base de apoio do meu governo, como fazemos parte, todos, da base de apoio do governo Lula. Então, é possível.
A senhora não acha difícil administrar essa fome, esse lado espaçoso do PMDB?
Ana Júlia: Olha, eu te diria o seguinte: o PMDB e o PT são partidos grandes. Não são hegemônicos na sociedade, mas, têm representatividade. Quem confere essa representatividade, tanto ao PT quanto ao PMDB é a sociedade. Nenhum dos dois é hegemônico, certo? Têm mais ou menos o mesmo tamanho. Então, é natural um certo conflito, uma disputa. Não se trata de apetite: é disputa por espaços de poder. É uma disputa que eu reconheço como natural do processo político. Porque as pessoas acham que quanto mais ocupam espaços, mais condições têm de fazer a política para o seu partido político. Porque o fato de estar aliado com outro partido não faz com que o partido perca a identidade. Por exemplo: o PMDB está aliado conosco, mas não perde a sua identidade, como também o PT está aliado com o PMDB não só numa série de estados, mas, de municípios do Pará. Em vários municípios paraenses, o PT é vice do PMDB, ou tem espaços na administração. E o PT, também, não perde a sua identidade. Então, essas disputas muitas vezes acontecem pela tentativa de cada um tentar ser mais hegemônico que o outro. Mas eu vejo isso com naturalidade.
Mas o PMDB se queixa que o PT acha que ele só quer cargos, quando, na verdade, os peemedebistas querem é trabalhar. Para o PT, para a senhora, o PMDB só quer cargo?
Ana Júlia: Não, não acho isso. O PMDB administra áreas importantíssimas no meu governo e áreas que andam muito bem, como Habitação, Saneamento, como o Hemopa, a Jucepa – muito bem administrada – a Ceasa, o Detran. Então, seria um absurdo dizer uma coisa dessas. E eu não creio que ninguém do PT diga isso.
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