Claudia Hammond, da BBC Future.
Não são poucas as pessoas que compram alimentos diet e adoçantes em uma tentativa de reduzir a ingestão de açúcar. E, ao longo dos anos, foram levantadas várias dúvidas sobre a segurança desses produtos. Mas será que existem provas suficientes de que eles realmente fazem mal?
O aspartame é provavelmente o adoçante artificial mais conhecido e também o mais criticado mundialmente. Trata-se de um ácido graxo criado a partir do ácido aspártico e da fenilalanina.
Em 1996, um estudo científico sugeriu que o aumento nos casos de tumores cerebrais no mundo estaria ligado à crescente popularidade do aspartame.
Os medos continuaram existindo e outros tipos de câncer começaram a ser mencionados pela comunidade científica como relacionados ao consumo do adoçante.
A preocupação era tanta que o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos decidiu conduzir um amplo teste com quase 500 mil voluntários. Os resultados, publicados em 2006, não encontraram nenhum aumento no risco de câncer do cérebro, leucemia ou linfoma em pessoas que consumiam aspartame regularmente.
Outro estudo, realizado pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA, na sigla em inglês), concluiu que o consumo de aspartame no nível recomendado (40 mg por cada quilo do peso corporal do indivíduo, por dia) é seguro.
Amigo dos dentes
Segundo os cientistas que estudaram o aspartame, ele não causa tantos problemas porque apenas uma pequena parte dele entra na circulação sanguínea, sendo rapidamente quebrado e transformado em outras substâncias.
Há uma exceção, no entanto: vítimas da doença genética rara fenilcetonúria (PKU, na sigla em inglês) não podem processar a fenilalanina, um dos subprodutos do aspartame. Para elas, esse tipo de adoçante é perigoso.
Alguns adoçantes também apresentam efeitos colaterais. O xilitol, presente em balas sem açúcar, é um tipo de carboidrato que, se consumido em excesso, pode provocar diarreia.
Mas existem indícios de que esse tipo de adoçante pode ajudar na prevenção à cárie, porque neutraliza a acidez da placa bacteriana sobre os dentes.
ESTÉVIA, A VEDETE
A grande novidade do momento na Europa e nos Estados Unidos é a estévia, nativa do Brasil e do Paraguai e usada como planta medicial há séculos.
Ela não tem calorias e é 300 vezes mais doce que o açúcar. Mas como alguns consumidores não gostam muito do leve gosto de anis que a estévia deixa na boca, muitos fabricantes de alimentos costumam misturá-la a adoçantes artificiais.
Mas será que a estévia é segura? A EFSA acredita que sim, após ter conduzido uma análise de provas recolhidas em humanos e em animais em 2010. Foi concluído que a substância não provoca câncer e não é tóxica.
Por outro lado, a agência europeia também concluiu que não há provas de que a estévia ajude uma pessoa a perder peso ou a manter um peso saudável.
Isso porque não se sabe se há consequências quando o cérebro registra o sabor doce, mas não recebe a dose de açúcar que espera. Isso poderia, de alguma forma, induzir o corpo a liberar insulina demais, o que provocaria um ganho de peso a longo prazo.
Além disso, o grande mote dos adoçantes é que eles ajudariam as pessoas a saciar sua vontade por doces sem ganhar peso nem desenvolver o diabetes. Mas esses produtos já são vendidos há décadas e não parecem ter impedido a crise da obesidade que muitos países vivem hoje.
Intolerância à glicose
Mesmo assim, ao que parece, os adoçantes não deveriam merecer a má reputação. Mas justamente quando parecia que os estudos estavam a seu favor, uma nova pesquisa foi publicada em Israel, sugerindo que o aspartame, a sacarina e a sucralose podem, na realidade, contribuir para o diabetes tipo 2.
O estudo foi aplicado em camundongos e, em seguida, em humanos. Em ambos os casos, boa parte dos indivíduos apresentou algum intolerância à glicose após o consumo desses adoçantes, um sintoma associado ao diabetes tipo 2.
É verdade que esse estudo é apenas um dentre vários e até os próprios pesquisadores reconheceram que precisam de mais avaliações antes de chegarem a uma conclusão.
E, em 2013, uma outra pesquisa, realizada com milhares de pessoas em oito países europeus, não encontrou relação entre os adoçantes e o diabetes tipo 2.
Por isso, se há uma lição a ser aprendida com todos esses estudos é que não existe uma categoria de adoçantes que seja boa ou ruim. Todos são diferentes e precisam ser pesquisados separadamente.
Sendo assim, talvez seja cedo para tomar uma decisão definitiva sobre o que colocar (ou não) no cafezinho daqui para a frente.
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