Programa de equoterapia da Polícia Militar promove inclusão e forma atletas

Em 1993, a Polícia Militar do Pará inaugurou seu primeiro centro de equoterapia no estado. A iniciativa, pioneira e gratuita, auxilia na recuperação de pacientes com problemas neurológicos e com lesão motora. Quase vinte anos depois, o trabalho continua no Centro Interdisciplinar de Equoterapia (CIEC), em Belém, onde são atendidas 68 pessoas, entre adultos e crianças. Com idades que variam entre dois e 60 anos, os pacientes praticam uma terapia diferente, que inclui cavalos em todas as atividades, e participam de projetos socioculturais que promovem a inclusão social de pessoas com deficiência.
O Centro funciona desde 2004 na Clínica Médico-veterinária da Polícia Militar, localizada atrás do Estádio Olímpico do Pará. Os praticantes são atendidos uma vez por semana, em sessões de 30 minutos. A equipe é formada por fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, pedagoga, médicos veterinários e três equitadores da PM, que fazem o treinamento dos cavalos e a condução dos animais durante a terapia. Todos são funcionários públicos do Estado e possuem cursos específicos para desenvolver estas funções, oferecidos pela Associação Nacional de Equoterapia, com sede em Brasília.
“Para realizar este trabalho de equoterapia, os profissionais envolvidos precisam fazer cursos oferecidos pela ANDE. Além disso, nossa equipe participa de cursos regulares para aperfeiçoar as técnicas em todas as áreas de atuação. Nunca tivemos um acidente sério no CIEC e trabalhamos para oferecer o melhor atendimento aos praticantes da equoterapia”, explica o Tenente Braga, subcoordenador do Centro.
O trabalho terapêutico feito pela equipe multidisciplinar é individualizado. Cada praticante tem metas específicas a atingir, mas o picadeiro, ambiente onde as atividades são desenvolvidas, é compartilhado por todos. Bruna Miranda, fonoaudióloga do CIEC, explica a diferença da equoterapia da terapia convencional. “O ambiente terapêutico é diferente. Na equoterapia nós trabalhamos o indivíduo como um todo, num espaço lúdico que estimula vários sentidos ao mesmo tempo. O movimento tridimensional oferecido pelo cavalo estimula e melhora a postura correta e o equilíbrio e isto está relacionado, dentre outros pontos, à produção da voz e da fala. Este movimento tridimensional promove um resultado que não se obtém em nenhum laboratório”, explica.
O programa de equoterapia é dividido em três subprogramas. A Hipoterapia, que envolve os praticantes iniciantes; Educação e Reeducação, que é a fase complementar da primeira e prepara o paciente para a última etapa, na qual apenas alguns praticantes são selecionados; e o Esportivo, onde há o treinamento para participação de competições Paralímpicas. “Todo este trabalho só é possível graças a parcerias firmadas. O Governo do Estado do Pará, a Associação Paraense de Equoterpia, a Associação dos Amigos do CIEC e o regimento de Polícia Montada da PM são imprescindíveis para oferecermos a equoterapia no Estado”, diz o Tenente Braga.
Superação
Bruno Lins, 27 anos, é praticante da equoterapia e atleta paralímpico desde 2007. Por meio de uma parceria entre o CIEC e a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel), hoje ele treina para alcançar índice para as Paralimpíadas de Londres. A trajetória dele, marcada por muitos desafios, encontrou caminho na equoterapia. “Quando o Bruno nasceu a médica disse que ele não iria sobreviver, porque ficou sem oxigenação durante o parto e desenvolveu paralisia cerebral. Mas ele não apenas sobreviveu como hoje é um atleta, cursando a segunda faculdade e treinando muito para ir às Olimpíadas de Londres. Atribuo esta vitória à persistência dele e à equoterapia, que mudou a vida do meu filho”, comenta Socorro Alencar. Bruno pratica atletismo e hipismo adaptado. Tem mais 100 medalhas e desde 2007 viaja até três vezes ao ano para competir.
Até completar 10 anos Bruno sequer andava. Foi um processo lento, uma história de superação que envolveu toda a família. Sua mãe o carregava todos os dias para equoterapia. Socorro conta que a primeira vez que ele firmou o pescoço e sentou foi em cima de um cavalo. Seus primeiros passos foram ao lado do animal. “O cavalo é o alicerce do Bruno. A trajetória de saúde do meu filho é incrível, ele não andava nada e hoje é um velocista. Eu vivia em função dele, que hoje sai de casa às sete da manhã e só chega às onze da noite. Ele treina, trabalha e faz faculdade de Educação Física a noite, é uma pessoa totalmente independente”, diz Socorro.
O talento para o atletismo foi descoberto em 2007, quando ele participou dos Jogos Universitários Paralímpicos (JUP) em São Paulo. A comitiva paraense precisava de um atleta com paralisia cerebral e que fosse universitário. Bruno era o único com estas características. Em uma das atividades desenvolvidas pelo CIEC ele foi descoberto e do convite ao embarque passaram-se apenas dois dias. Ele nunca havia viajado sem os pais e tampouco participado de uma competição de atletismo. A mãe ficou apreensiva, mas ele não teve dúvidas e decidiu viajar sozinho pela primeira vez.
“Eu sou o único atleta com paralisia cerebral que representa o Pará em competições de atletismo. Voltei desta competição com a minha primeira medalha de prata nos 100 metros, e olha que não tinha nem tênis pra competir, usei um velho do meu irmão, que tinha um buracão. Acho que corri rápido naquele dia porque o chão estava quente e queimava o meu pé”, conta Bruno, se divertindo com as lembranças do início da carreira esportiva. Hoje ele não enfrenta mais estas dificuldades. Através da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel) ele recebe uma bolsa mensal e é treinado, há sete anos, por Suzete Montalvão, no Estádio Olímpico do Pará.
Atividades sociais
A Associação dos Amigos do CIEC realiza desde 2005 atividades voltadas para inclusão das pessoas com deficiência. Junto ao Centro eles promovem passeios e eventos regulares para os praticantes e suas famílias, promovendo, com isso, a interação e inclusão social.
O maior evento acontece no final do ano, em comemoração ao Natal. No ano passado, os praticantes apresentaram o espetáculo “Cavalo Mágico” e este ano se preparam para os ensaios do “Torneio Medieval”. “Essa çprogramação de fim de ano são abertos ao público e envolvem todos os participantes da equoterapia. Nosso objetivo é incluir socialmente as pessoas com deficiência mostrar que elas são capazes de atuar, montar a cavalo e encantar as pessoas”, comemora o Coronel Polaro, presidente da Associação.
Como fazer equoterapia
As pessoas interessadas em fazer ou inscrever alguém na equoterapia devem procurar, sempre no início do semestre, a Clínica Médico-veterinária da PM no horário comercial. Os requerentes devem levar os laudos relativos ao paciente, fazer a inscrição e aguardar o contato para marcar avaliação. A lista de espera atual conta com 200 nomes.


Texto:
Julia Garcia - Secom
Fone: (91) 3202-0912 / (91) 8847-2281

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