<- Tatiana atua em área pacificada no Rio de Janeiro
Foto: Adriano Ishibashi/Futura Press
"Nunca me vi trabalhando sentada, em meio a papéis. Sempre quis ser
militar", conta Rosana Gomes Batista, enquanto balança um bebê que foi
parar em seu colo durante a visita de uma equipe de policiais da UPP da
Mangueira ao setor mais carente da comunidade. A soldado faz barulhos
com a boca, cócegas e mais cócegas, dá beijinhos e acaba arrancando
gargalhadas desdentadas do pequeno.
Rosana conta que quando chegou ali, há três semanas, o bebê estava abandonado, sob os cuidados do irmão de seis anos de idade. Ela e alguns de seus colegas chamaram a mãe para uma conversa. Disseram que se isso voltasse a ocorrer ela acabaria perdendo a guarda dos filhos. A repreensão parece ter funcionado. A mãe estava lá desta vez.
Segundo a policial, que não tem filhos, o carinho com a criança é natural e também vem de treinamento. Rosana faz parte de um grupo de PMs recém formados para atuar em áreas pacificadas no Rio. E faz parte de um grupo ainda seleto, mas que está crescendo justamente por mostrar eficiência no policiamento de proximidade, o de mulheres PMs. No último concurso para a Polícia Militar, das 7 mil vagas oferecidas, mil foram para mulheres. Uma porcentagem de 14,2%, muito maior do que os 7,5% da relação total de mulheres empregadas na instituição.
"Ser mulher ajuda. Em uma aproximação mais comunitária a mulher tem essa vantagem. Já é natural ser mais simpática, principalmente com as crianças, que se aproximam mais da gente do que dos homens", explica a sub-comandante da UPP Mangueira/Tuiti, a tenente Tatiana Lima, que tem o maior efetivo de mulheres entre as UPPs (64). Formada no corpo de oficiais em 2008, ela entrou para a PM antes mesmo de a primeira favela ter sido ocupada para a pacificação. No entanto, Tatiana afirma que carregava desde o início a função comunitária. "Gentileza gera gentileza, diz o profeta. Por que o policial, na sua abordagem, não poderia ser mais humano?", indaga a tenente.
A sub-comandante já é conhecida nas ruas da Mangueira. As pessoas, principalmente crianças, param para falar com ela. Tatiana retribui sorrisos, brinca, demonstra carinho. Em nome da conquista de mentes e corações, a policial aceitou até mesmo o convite para cantar em um show de música gospel promovido por um grupo no local onde há maior resistência da cultura do tráfico na comunidade, a rua conhecida como "Buraco Quente", perto de onde vivia o ex-dono do tráfico na Mangueira, Alexander Mendes da Silva, o Polegar, que foi preso em outubro no Paraguai.
"Não é ser celebridade. Mas quero chegar ao ponto de poder ser uma referência para os moradores, sim. Servir de exemplo. Poder ser alguém que eles confiem e ser alguém com quem eles possam contar se tiverem algum problema", diz Tatiana.
Ao invés de preconceito, a policial sente que as pessoas, principalmente as mulheres da comunidade, demonstram admiração: "Elas me veem com olhar diferente por eu ser mulher e por estar em uma posição de comando. Uma mãe já me parou e disse que eu era motivo de orgulho para as mulheres daqui. Isso é muito bom. Principalmente para mim, que sou mulher, ver esse reconhecimento".
A nova abordagem parece estar encorajando as mulheres e as fazendo vencer o medo de entrar para a polícia em um lugar onde os policiais normalmente tomam cuidado para não serem identificados quando não estão em serviço e, por motivos de segurança, não comentam muito sobre a profissão com vizinhos e não deixam distintivos e documentos a mostra. O último concurso teve 16.441 inscritas para mil vagas. Tatiana conta que seus pais, apesar de lhe darem apoio, temiam que alguma coisa pudesse acontecer quando ela entrou para a corporação. Com o passar do tempo isso mudou. "Medo todo mundo tem, não tem jeito. Mas eu acredito que o Rio está passando hoje por uma fase de pacificação. Minha mãe se sente confortável por isso. O jornal que ela lê mostra notícias diferentes do que mostrava antes", afirma.
Outro aspecto que tem feito mulheres carregarem fuzis e passarem por treinamento com uma rotina diária de exercícios "igual a dos homens" que envolve atirar, pular muros e rastejar é a oportunidade de aplicar diferentes conhecimentos juntamente com a carreira militar. "Tem uma gama muito grande de pessoas formadas com curso superior fazendo o curso. Na minha turma tinha dentista, advogado, pedagogo", conta a soldado Caroline dos Santos e Silva, 24 anos. Formada em educação física, ela enxergou na UPP uma chance de colocar seu conhecimento em prática e quer promover atividades de esporte inclusivas para afastar jovens e crianças do ócio. "Tem muita gente sem fazer nada aqui. Você olha as crianças na rua o dia inteiro. A mãe trabalha e as crianças ficam largadas", relata Caroline.
Saiba Mais
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5504340-EI5030,00-PM+aposta+no+toque+feminino+para+conquistar+comunidades+no+Rio.html
Foto: Adriano Ishibashi/Futura Press
Rosana conta que quando chegou ali, há três semanas, o bebê estava abandonado, sob os cuidados do irmão de seis anos de idade. Ela e alguns de seus colegas chamaram a mãe para uma conversa. Disseram que se isso voltasse a ocorrer ela acabaria perdendo a guarda dos filhos. A repreensão parece ter funcionado. A mãe estava lá desta vez.
Segundo a policial, que não tem filhos, o carinho com a criança é natural e também vem de treinamento. Rosana faz parte de um grupo de PMs recém formados para atuar em áreas pacificadas no Rio. E faz parte de um grupo ainda seleto, mas que está crescendo justamente por mostrar eficiência no policiamento de proximidade, o de mulheres PMs. No último concurso para a Polícia Militar, das 7 mil vagas oferecidas, mil foram para mulheres. Uma porcentagem de 14,2%, muito maior do que os 7,5% da relação total de mulheres empregadas na instituição.
"Ser mulher ajuda. Em uma aproximação mais comunitária a mulher tem essa vantagem. Já é natural ser mais simpática, principalmente com as crianças, que se aproximam mais da gente do que dos homens", explica a sub-comandante da UPP Mangueira/Tuiti, a tenente Tatiana Lima, que tem o maior efetivo de mulheres entre as UPPs (64). Formada no corpo de oficiais em 2008, ela entrou para a PM antes mesmo de a primeira favela ter sido ocupada para a pacificação. No entanto, Tatiana afirma que carregava desde o início a função comunitária. "Gentileza gera gentileza, diz o profeta. Por que o policial, na sua abordagem, não poderia ser mais humano?", indaga a tenente.
A sub-comandante já é conhecida nas ruas da Mangueira. As pessoas, principalmente crianças, param para falar com ela. Tatiana retribui sorrisos, brinca, demonstra carinho. Em nome da conquista de mentes e corações, a policial aceitou até mesmo o convite para cantar em um show de música gospel promovido por um grupo no local onde há maior resistência da cultura do tráfico na comunidade, a rua conhecida como "Buraco Quente", perto de onde vivia o ex-dono do tráfico na Mangueira, Alexander Mendes da Silva, o Polegar, que foi preso em outubro no Paraguai.
"Não é ser celebridade. Mas quero chegar ao ponto de poder ser uma referência para os moradores, sim. Servir de exemplo. Poder ser alguém que eles confiem e ser alguém com quem eles possam contar se tiverem algum problema", diz Tatiana.
Ao invés de preconceito, a policial sente que as pessoas, principalmente as mulheres da comunidade, demonstram admiração: "Elas me veem com olhar diferente por eu ser mulher e por estar em uma posição de comando. Uma mãe já me parou e disse que eu era motivo de orgulho para as mulheres daqui. Isso é muito bom. Principalmente para mim, que sou mulher, ver esse reconhecimento".
A nova abordagem parece estar encorajando as mulheres e as fazendo vencer o medo de entrar para a polícia em um lugar onde os policiais normalmente tomam cuidado para não serem identificados quando não estão em serviço e, por motivos de segurança, não comentam muito sobre a profissão com vizinhos e não deixam distintivos e documentos a mostra. O último concurso teve 16.441 inscritas para mil vagas. Tatiana conta que seus pais, apesar de lhe darem apoio, temiam que alguma coisa pudesse acontecer quando ela entrou para a corporação. Com o passar do tempo isso mudou. "Medo todo mundo tem, não tem jeito. Mas eu acredito que o Rio está passando hoje por uma fase de pacificação. Minha mãe se sente confortável por isso. O jornal que ela lê mostra notícias diferentes do que mostrava antes", afirma.
Outro aspecto que tem feito mulheres carregarem fuzis e passarem por treinamento com uma rotina diária de exercícios "igual a dos homens" que envolve atirar, pular muros e rastejar é a oportunidade de aplicar diferentes conhecimentos juntamente com a carreira militar. "Tem uma gama muito grande de pessoas formadas com curso superior fazendo o curso. Na minha turma tinha dentista, advogado, pedagogo", conta a soldado Caroline dos Santos e Silva, 24 anos. Formada em educação física, ela enxergou na UPP uma chance de colocar seu conhecimento em prática e quer promover atividades de esporte inclusivas para afastar jovens e crianças do ócio. "Tem muita gente sem fazer nada aqui. Você olha as crianças na rua o dia inteiro. A mãe trabalha e as crianças ficam largadas", relata Caroline.
Saiba Mais
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5504340-EI5030,00-PM+aposta+no+toque+feminino+para+conquistar+comunidades+no+Rio.html
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