O Massacre na Escola do Realengo e a urgência do Desarmamento

Autor: Danillo Ferreira
Certamente os leitores já estão cientes da histórica tragédia ocorrida no Rio de Janeiro nesta quinta, em que 11 jovens foram mortos por um homem que adentrou em uma escola no Realengo sob a alegação de ir realizar uma palestra, e acabou deflagrando vários tiros contra estudantes. Quem não sabe do que se trata, pode entender o caso aqui.

A nós, neste espaço, cabe discutirmos o porquê da incidência deste tipo de catástrofe, pensando mais na prevenção de reincidências, do que no estudo de questões menores como os detalhes na execução do crime, a carta deixada pelo autor, a mensagem que ele deixou no Orkut etc.

A mídia vem focando suas discussões no perfil psicológico do criminoso. Sugeriu-se a possibilidade de ter sofrido Bullying na mesma escola em que cometeu a chacina. Outros apontam para abuso familiar durante a infância. Por fim, relacionam seu ímpeto matador a algum tipo de fundamentalismo religioso. Todas essas questões são dignas de discussão, num sentido amplo de prevenção desses problemas na sociedade.
Entretanto, é preciso observar a complexidade das influências sofridas pela psique humana, fazendo com que um indivíduo chegue a cometer ato tão desastroso. Certamente, a resposta para a motivação do crime será sempre eivada de alguma subjetividade. Logo, esta não é a prioridade.

O que não é subjetivo é que o uso da arma(s) de fogo possibilitou a dimensão do massacre como tal. A ocorrência de fatos como este é próprio duma sociedade que admite, em todas as dimensões, o comércio (legal ou ilegal) e o uso de armas de fogo. Aqui me refiro às autoridades que são lenientes com políticas de segurança ineficazes, bem como ao cidadão que possui uma arma em casa para usá-la no próximo desentendimento com o vizinho.

Neste ponto, é preciso lembrar que 80% das armas ilegais apreendidas no Brasil são fabricadas no próprio país, de modo que, provavelmente, o instrumento que possibilitou a morte dos 11 jovens no Rio de Janeiro é originário de fábricas brasileiras. Concluímos daí o quão absurda é a incapacidade pública no combate ao tráfico de armas de fogo, que está ligada ao lobby daqueles que lucram com a venda de armas, pervertendo a lógica das prioridades humanas – a vida sendo descartada em favor da vantagem financeira.

O sociólogo Marcos Rolim, em seu Twitter, deu um show de lucidez na análise do caso, pontuando aspectos essenciais na discussão:
“Armas de mão foram feitas para matar seres humanos; elas podem ser ocultadas no bolso permitindo que passem despercebidas.”

“Armas de mão são as verdadeiras armas de destruição em massa. Nenhum outro armamento mata mais pessoas no mundo.”

“Por isso, apenas policiais deveriam ter autorização para portá-las; mesmo assim não todos.”

“bullying, religião, loucura… especulações se sucedem. Mídia só não fala do essencial: como o atirador adquiriu armas e carregadores?”

“Sem armas de fogo, qual o dano que um maluco poderia produzir em uma escola?”

Veja mais no twitter de Marcos Rolim…

Se a mídia e a sociedade brasileira tiverem a necessária responsabilidade, e pretenderem dar outro rumo ao cotidiano sangrento que vivemos – que teve nesta quinta um de seus episódios mais marcantes – é imprescindível impedir a circulação de armas de fogo entre a população civil. Impor limites à produção nacional é o primeiro passo nesse sentido. Ou fazemos isso, ou devemos nos preparar para mais tragédias e absurdos.

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