SÓ DEUS SABE
O curso na tradicional Academia de Polícia Militar de Paudalho reservou
momentos especiais. Tinha uma atividade que se dava às 21 horas.
Era a Chamada do
Pernoite.
Entrávamos em
forma. Pelotões perfilados. Do Primeiro ao Terceiro Ano do
Curso de Formação de Oficiais.
Na verdade, era uma espécie de chamada só pra
ver se estava todo mundo no quartel. Oportunidade que os oficiais tinham de
sacanear com a gente mais uma vez no dia. E foi num (mal)dito pernoite de
domingo que o tenente, oficial-de-dia, sentiu a falta de um integrante do
curso. O paraibano Jorge não estava perfilado conosco naquele momento.
Chamou o
xerife da turma e perguntou, no bom sotaque pernambucano:
- Xerife, cadê Jorge?
- Sei não, tenente! Só Deus sabe!
– respondeu o xerife.
- Ah, é? Então faça o seguinte: vá
lá pra frente da turma e pergunte a Deus onde está Jorge!
O xerife não contou conversa. Foi
lá pra frente de todo mundo e começou a rezar, sob o olhar de cada companheiro
e entre risos contidos daqueles que estavam em forma, imóveis e que não podiam
soltar a gargalhada (em que pese a vontade).
Cena estranha e ao mesmo tempo engraçada aquela do chefe de
turma, olhando pra cima, talvez a inspirar-se na lua cheia que iluminava
Paudalho-PE, para poder dar uma resposta ao tenente.
O oficial-de-dia continuava a
dar as suas ordens. Aliás, em Paudalho quando o oficial bradava as ordens,
parecia que estava fazendo ameaças. Eram ameaças ao nosso fim-de-semana. Depois
de dez minutos de ameaças, digo, de ordens, o tenente volta-se para o xerife,
na busca da resposta sobre o paradeiro de Jorge.
- Xerife, perguntou a Deus sobre o
destino de Jorge?
- Perguntei, sim, senhor!
- E o que foi que Deus
disse?
- Que Jorge tá na Paraíba,
senhor tenente!
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