Definitivamente, o clichê da moça simples que chega ao estúdio com roupas comuns e de cara lavada para se transformar em um mulherão assim que o fotógrafo liga as luzes e aciona a câmera não se aplica à rainha do tecnobrega paraense, Gaby Amarantos, que estourou com o hit Xirley. É que ela já vive montada. Só para dar uma ideia, Gaby trouxe de casa, lá de Belém, o modelão roxo com que aparece em uma das fotos destas páginas, além de sapatos de salto 17 na cor laranja-cítrica. Detalhe: ela viajou para o Rio de Janeiro sem shows marcados, o que significa que não havia motivo para pôr na mala um traje tão chamativo.“Viu como foi bom trazer? Uso roupas que são a minha cara. Se deixasse os outros me vestirem, não seria eu de verdade”, diz a precavida Gaby.
Produzir a cantora foi, na verdade, desproduzila.Ou seja, para fazer uma foto dela “séria”, ou à paisana, a equipe da revista teve de submetê-la auma espécie de regressão visual intensiva. E Gaby curtiu o processo. “Tô achando ótimo colocarla do a lado a pessoa física e a pessoa artística!” Ela despontou junto com o tecnobrega, cujos primeiros registros datam de 2000, quando algumas bandas paraenses passaram a misturar diferentes ritmos, como carimbó, lambada, salsa e guitarradas, com todo tipo de ruído eletrônico. Hoje as apresentações dos astros locais são megaproduções que chegam a atrair 10 mil pessoas em catarse e, nas palavras de Gaby, fazem o público vibrar “como se estivesse tendo um ataque”. Mas a cantora criou um estilo próprio e o imprimiu no novo gênero musical. Suas referências e inspiração vieram de clássicos do brega, como Waldick Soriano, Fernando Mendes e Reginaldo Rossi, a Maria Alcina, Ney Matogrosso, Clara Nunes e Elke Maravilha. Ah, e ela adora Marisa Monte, a Tropicália e a Jovem Guarda. A alquimia deu tão certo que Gaby gravou músicas de sucesso quase imediato, como Ex Mai Love, trilha da abertura da novela das 7 da Globo, Cheias de Charme. Ela atribui muito de seu sucesso à escolha feliz de profissionais que “souberam pegar a música regional de Belém e sofisticá-la sem deixar que perdesse sua essência”. Entre eles o diretor musical Carlos Eduardo Miranda, o produtor Felix Robato e o DJ Waldo Squash.
Boa de garfo
Gaby tem 33 anos, 1,66 metro, 76 quilos e, apesar de estar acima do peso (para os padrões convencionais), é uma mulher leve. “Ela consegue flutuar quando dança. O que a Gaby faz no palco é digno de muitos parabéns. Porque existe o peso real, mas também a vontade de transformá-lo em pluma”, diz o coreógrafo Silvio Lemgruber, que a orientou para a recente edição da Dança dos Famosos, do Domingão do Faustão.Também conhecida como a Beyoncé do Pará, ela garante que não sofre com a ditadura da magreza. “Meu peso não me incomoda; isso só incomoda os outros”, afirma abocanhando, no bar do hotel, um sandubão com batatas fritas.
Um de seus maiores prazeres é comer. “Não me lembro de nada de que eu não goste.” Enquanto devora o lanche de emergência, atende muitas ligações de jornalistas e demonstra estar satisfeita com todo esse assédio. Leonina, ela “se acha”, mas da maneira mais natural do mundo. Admite que curte ser paparicada, sabe mandar e está aberta para o amor. “Essa história de não dar tempo para namorar, por causa da correria, não existe. O único problema que sempre enfrentei, e agora parece maior, é que os homens têm receio de chegar perto de uma mulher como eu. Eles esperam que a iniciativa seja minha.” Um tipo físico de preferência ela não tem. “Tem de ser homem que gosta mesmo de mulher. E que me trate de igual para igual.”
Bem-humorada, ela fala, fala, fala e enfeitiça o interlocutor com suas histórias. Conta que, na infância, sua mãe entrou em um curso de corte e costura para fazer as roupas dos filhos. A princípio, Gabriela, Gabriel e Gabriele seriam “cobaias”da aprendiz. “Mas eu inverti as coisas e transformei minha mãe em cobaia das minhas invenções”, lembra. “Cismei de querer uma bota que nem a da Xuxa, mas no Pará, por causa do clima quente, não se vendem botas. Minha mãe, então, fez uma de crochê rosinha pra mim e outra pra minha irmã. Ninguém na escola tinha igual.”Gaby diz ser particularmente agradecida “às bicha”, que ajudaram a criar seu figurino peculiar. “O Guilherme Rodrigues, por exemplo, faz minhas coisas que acendem”, conta mostrando um casaquete com LED. Mas ela enfatiza que seu público não se restringe aos gays. “Olho para a plateia e vejo de tudo: homo, hétero, criança, velho, feio, bonito.”
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