Crianças, jovens e adultos atendidos pelo
Espaço Acolher, que integra o Programa de Atenção Integral a Vítimas de
Escalpelamento (Paives), da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará,
participaram na tarde desta sexta-feira (22) da aula inaugural, do ano
letivo de 2013, da Classe Hospitalar, implantada no local em 2012 pela
Secretaria de Estado de Educação (Seduc). A classe atende moradores de
vários municípios, a maioria ribeirinhos, que fazem o tratamento sem
interromper os estudos.
Segundo a coordenadora do
Espaço Acolher, Luzia Matos, no ano passado foram firmadas parcerias
importantes para o projeto, principalmente após a Seduc integrar as
ações da Classe Hospitalar ao sistema de ensino estadual. Além da Seduc,
foram formadas parcerias com a Universidade do Estado do Pará (Uepa),
por meio do Núcleo de Educação Popular (NEP), responsável pelo ensino de
jovens e adultos atendidos pelo espaço; com a Universidade Federal do
Pará (UFPA), com o Pré-Amar Teatral, projeto de extensão da Escola de
Teatro e Dança, que ensina arte de forma lúdica aos pacientes, e com a
Universidade da Amazônia (Unama), a qual disponibiliza alunos do Curso
de Terapia Ocupacional para auxiliar nas ações desenvolvidas pelo
projeto.
“Nós conseguimos montar um grupo bastante
interessante, ampliando o trabalhando e atendendo tanto vítimas como os
acompanhantes, que necessitam ficar no espaço quando as vítimas são
crianças. Nós conseguimos também desenvolver, junto com a Seduc e outras
instituições, uma cartilha pedagógica específica para o espaço, a
partir da experiência de cada usuário, com a metodologia
ensino-aprendizado prevista pela Seduc e pelo NEP. Todo esse material
didático desenvolvido durante o ano passado será utilizado este ano”,
informou Luzia Matos.
Segundo ela, o projeto foi
iniciado em 2011, porém somente no ano passado foi formada uma equipe
pedagógica capaz de desenvolver o trabalho educativo de forma coesa. “A
Seduc disponibilizou uma boa estrutura, com computadores para o auxílio
na educação e professores diários, que não havia. O trabalho na Classe
Hospitalar foi garantido a partir dessas parcerias. Neste ano nós
pretendemos avançar com esse serviço”, adiantou.
Oficinas
- Além das aulas regulares, os alunos participam de atividades
extracurriculares, cujo objetivo é gerar emprego e renda para os jovens.
Entre essas atividades estão oficinas de artesanato, costura industrial
e informática. “Estamos iniciando uma discussão com a Secretaria de
Estado de Trabalho, Emprego e Renda (Seter) para implantar cursos
profissionalizantes no espaço. Nós trabalhamos essas oficinas
paralelamente ao processo educativo, pois entendemos que, como
trabalhadoras rurais, as vítimas não poderão mais trabalhar. Então, elas
irão precisar de alguma atividade que possa gerar algum ofício”,
ressaltou Luzia.
A diretora de Ensino e Pesquisa da
Fundação Santa Casa, Lizomar Moia, explicou que o ano letivo é igual ao
de uma escola regular. A Seduc envia pedagogas e professores ao espaço
para ministrar todas as matérias necessárias, levando em consideração as
divisões de séries, de acordo com a idade de cada aluno. “São
ministradas aulas de Português, Ciências, Artes, Informática, enfim,
todas as matérias que elas teriam normalmente como se estivessem em uma
escola. Elas estudam no espaço todo o período necessário para o
tratamento”, destacou Lizomar. De acordo com a diretora, todo o
rendimento do aluno é encaminhado, por meio da Seduc, ao município de
origem, para que possa dar continuidade aos estudos após concluir o
tratamento.
Acolhimento – A Santa
Casa passou a ser referência no atendimento a vítimas de escalpelamento
em 2006, informou a coordenadora do Paives, Maria do Socorro Ruivo.
Antes, as pacientes eram atendidas em qualquer hospital cadastrado pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), e enfrentavam dificuldades para manter o
tratamento. “Após a Santa Casa se tornar referência, nós começamos a
perceber a dificuldade que as pacientes tinham em ser acomodadas em
Belém. Elas ficavam em casas de apoio, disponibilizadas pelos seus
municípios de origem. Em alguns casos, esses lugares ficavam distantes
do local onde elas eram atendidas. Muitas abandonavam o tratamento. A
direção da Santa Casa se viu no dever de criar um espaço para albergar
essas jovens”, contou Maria do Socorro Ruivo.
Ela
ressaltou que a Santa Casa é responsável por todo o atendimento às
vítimas. “Após a fase cirúrgica, quando todos os exames apontam que elas
não correm risco de contrair nenhuma infecção, são encaminhadas para o
Espaço Acolher, onde ficam albergadas. Durante esse período elas estudam
e fazem atividades lúdicas”, acrescentou.
A
presidente da Fundação Santa Casa, Eunice Begot, destacou que o hospital
possui uma equipe de cirurgiões plásticos, enfermeiros e técnicos em
saúde para atender vítimas de escalpelamento. A equipe realiza os
procedimentos cirúrgicos necessários, a fim de minimizar as sequelas do
acidente. A maioria das vítimas é ribeirinha, sem referência familiar em
Belém. Por isso, segundo a presidente, o Espaço Acolher, que pertence à
Santa Casa, é uma continuação do Paives, que foi implantado com o
objetivo de manter as pacientes e seus acompanhantes em Belém, para que o
tratamento seja concluído.
“Nosso sonho é que esse
tipo de acidente seja erradicado no Estado, e que nunca mais nós
precisemos nos deparar com meninas e jovens vítimas de escalpelamento,
um acidente que deixa marcas e sequelas para o reso da vida, tanto
externa como internamente. Nós estamos trabalhando e lutando com todos
os nossos parceiros para evitar este tipo de acidente. Porém, enquanto
eles acontecem é preciso que alguém cuide dessas meninas. Aqui elas
encontram abrigo e participam da Classe Hospitalar, onde continuam os
estudos com apoio de várias instituições. É feito todo o trabalho de
acolhimento, para que elas possam ter uma vida o mais próximo do normal
possível, até o retorno ao ambiente familiar”, concluiu Eunice Begot.
Texto:
Pablo Almeida - Secom
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