Recentemente
um constrangimento, por conta de críticas, pós-interpretação coerente de dicas
de segurança, redundou
na retirada, do site da Polícia Militar da Bahia, de algumas
recomendações sobre como evitar ser vítima da violência e do crime.
Ocorre
que alguns conselhos eram simplesmente inexequíveis, como por exemplo a orientação
de quem, porventura, fosse jogado no porta-malas de um veículo, para que
quebrasse os faróis traseiros e gesticulasse “feito doido”; na prática é
impossível quebrar os faróis traseiros de dentro do porta-malas da grande
maioria dos veículos.
O episódio
trouxe à baila uma questão importantíssima, qual seja, “O que fazer para sentir-se
menos vulnerável ao crime e violência?”, ou ainda, a mesma indagação dita de
outra forma: “Como estar a salvo, ileso aos mais diversos ataques e tentativas,
nesta selva perigosa em que se transformaram as cidades?”.
A(s)
resposta(s) à pergunta é dificílima, talvez sem uma receita pronta a ser
adotada pelos habitantes das cidades, a pensar que o maior contingente humano
brasileiro é urbano, entretanto sem esquecer que o meio rural passa por um
processo de desertificação não apenas em razão da mecanização crescente da
agricultura, mas também por conta da insegurança pública.
Quem
se propõe a articular soluções são os “especialistas em segurança”, alguns,
visivelmente, dizem o que vêm à cabeça, por puro instinto – a seguir a máxima
de que todo brasileiro é técnico de futebol. Também há analistas com uma
bagagem estatística interessante, a dizer que os números podem prover
orientações seguras. Sendo que fora dos dois tipos apresentados há muitos
outros a dar pitacos para o cidadão sentir-se melhor nas cidades, mais
tranquilo.
De
minha parte, sem me considerar especialista em segurança pública e sim
pesquisador do assunto, o primeiro pitaco que ofereço é o de que o tema Segurança
Pública é interdisciplinar, no sentido de que determinado campo do conhecimento
“empreste” seu olhar para uso em segurança público, é dizer que um economista,
por exemplo, senta-se à mesa de discussões, sobre a insegurança pública, para
dizer que as organizações criminosas dependem de somas consideráveis de
dinheiro para sobreviver e quando estas movimentações financeiras forem
dificultadas muitas ações do crime organizado podem ser prevenidas. Muitos outros
exemplos poderiam ser explorados, a dizer que todos somos especialistas em
segurança pública, a partir no nosso olhar e, sobretudo, a direcionar o
entendimento para a prevenção ao crime e à violência.
Outro
ponto a destacar é a complexidade do assunto, isto é, o medo do crime é
diferente na cidade de São Paulo/SP em relação à cidade de Natal/RN, em razão
de que a forma de entender o mundo, pelo natalense é diferente do que pensa o
paulistano, a considerar tanto um quanto o outro como moradores radicados nas
cidades citadas e não simplesmente pela naturalidade.
Sendo
assim qualquer solução para a violência e o crime tem que ser doméstica, trazer
soluções cariocas para um ambiente soteropolitano (Salvador/BA) pode acarretar
dois problemas: impossibilidade na execução e, pior por seus efeitos, produzir
um caminho inverso do pretendido, isto é, a solução para o Rio de Janeiro/RJ é
desenhada para mitigar o medo carioca, ao ser implantada em Salvador/BA pode produzir,
como efeito colateral, o mesmo medo, em outras palavras, problemas (de
percepção, de medo do crime, de chamar a atenção dos delinquentes para
situações de crime e violência ainda não imaginadas, etc) podem ter como ponto
de partida as ações para acabar com algo que ainda não existia naquele
ambiente...
Ainda
há destaque para outra situação complicada: quais os conceitos embutidos nas
dicas de segurança?
Normalmente
os especialistas tomam como fator norteador que o perigo é extremo e que
atenção e prevenção devem ser a pauta mais importante aos cidadãos,
potencialmente vítimas. Todos estamos vulneráveis e o assaltante pode aparecer
a qualquer momento, um quadro aterrador, ou seja, o inimigo está sempre à
espreita e qualquer descuido pode ser fatal...
Penso
que tal conceito além de não resolver o problema, visto que na condição de
seres humanos todos nós incorremos em momentos de descuidos, mas acima de tudo,
acredito que o binômio ATENÇÃO TOTAL-DESCUIDO ZERO conduz a uma situação
critica, visto que a mola mestra para a existência destes comportamentos é o
medo de ser vítima, o medo é constante, e sendo assim o crime e a violência já
obtiveram êxito no quesito inquietação.
Atender a este conselho é, na minha
opinião, render-se ao crime e à violência. Corresponde a enunciar a mensagem de
que o crime e a violência estão em todo lugar e não há como lutar contra isso,
exceto por comportamentos de cuidar do que é nosso, é a falência do Estado como
zelador dos espaços urbanos públicos.
http://segurancapublicainterdisciplinar.blogspot.com.br/2013/04/especialistas-em-seguranca-e-suas-dicas.html?spref=fb
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