Colaboração: Cap Guedes - Senasp/Brasília-DF
Leonardo Nogueira, 32 anos, estudou música numa das melhores escolas do Rio, a Villa-Lobos. Formou-se em geografia pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Mas escolheu seguir a profissão de policial militar. Hoje, ele é o Capitão Nogueira, responsável pela UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) das comunidades de Pavão/Pavãozinho e Cantagalo, morros que ficam na área mais nobre da cidade, entre Ipanema e Copacabana. Ele comanda 203 homens que tomam conta dessa área que tem 9.500 moradores. Sente-se satisfeito com a aprovação popular de seu trabalho. "As UPPs estão resgatando o orgulho de 'Servir e Protegir', que é o nosso lema."
O Capitão Nogueira é um símbolo desse novo tipo de policial: inteligente, articulado, pensa antes de agir e falar. Tem ideias de projetos sociais para a comunidade e se mostra preocupado com as crianças. "Fiquei emocionado outro dia, quando fui parado no caminho para a UPP por um pai que queria me agradecer por dar ao filho a segurança de poder brincar de bicicleta na rua."
Em alguns lugares do Rio, porém, ainda há resistência ao trabalho das UPPs. Na noite desta terça-feira, um ônibus foi incendiado por traficantes e 13 pessoas ficaram feridas. O ataque teria sido uma resposta à prisão de um criminoso. Líderes comunitários como o rapper MV Bill são a favor do trabalho das UPP - leia entrevista-, mas traficantes, obviamente, se opõem.
Ele concedeu entrevista ao Yahoo! por telefone, enquanto saía da UPP pra casa, em São Gonçalo:
Qual a diferença entre o trabalho de um membro da UPP e o de um policial comum?
A maior parte dos membros da UPP é de policiais recém-formados com especialização em policiamento comunitário. O objetivo é manter a ordem na região previamente ocupada pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais), que faz a limpeza da área, ou seja, efetua as prisões e apreensões de armas e entorpecentes. Só depois disso os policiais da UPP entram na comunidade. Meu trabalho é comandar esses policiais, que têm como meta principal a garantia dos direitos civis dos moradores, algo que eles haviam perdido.
A maior parte dos membros da UPP é de policiais recém-formados com especialização em policiamento comunitário. O objetivo é manter a ordem na região previamente ocupada pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais), que faz a limpeza da área, ou seja, efetua as prisões e apreensões de armas e entorpecentes. Só depois disso os policiais da UPP entram na comunidade. Meu trabalho é comandar esses policiais, que têm como meta principal a garantia dos direitos civis dos moradores, algo que eles haviam perdido.
E como foi a reação dos moradores no momento da entrada de vocês?
No começo, claro, estavam todos muito receosos, mas nós já tínhamos experiência de outras UPPs, como a da Cidade de Deus e a do Batam. Aos poucos os moradores foram entendendo o nosso propósito. Eles perceberam que, sem segurança, vários outros órgãos do governo não chegavam aqui, como saúde, esgoto e iluminação pública. Agora a área do Estado voltou a ser do Estado, e não mais dos traficantes. Garantimos ao cidadão o direito de ir e vir.
No começo, claro, estavam todos muito receosos, mas nós já tínhamos experiência de outras UPPs, como a da Cidade de Deus e a do Batam. Aos poucos os moradores foram entendendo o nosso propósito. Eles perceberam que, sem segurança, vários outros órgãos do governo não chegavam aqui, como saúde, esgoto e iluminação pública. Agora a área do Estado voltou a ser do Estado, e não mais dos traficantes. Garantimos ao cidadão o direito de ir e vir.
Mas o tráfico não foi totalmente aniquilado, não?
Claro que a gente ainda registra algumas ocorrências, mas os índices de criminalidade, no geral, caíram bastante e as pessoas já se sentem mais seguras. Entramos no dia 23 de dezembro e só há pouco tempo, já com quase dois meses de ocupação, encontramos no alto do morro um túnel como os de guerrilha - e lá tinha de tudo, fuzis, pistolas, munição, entorpecentes em geral. São coisas que os traficantes deixaram para trás na fuga e que imaginavam um dia recuperar. Não vão mais.
Claro que a gente ainda registra algumas ocorrências, mas os índices de criminalidade, no geral, caíram bastante e as pessoas já se sentem mais seguras. Entramos no dia 23 de dezembro e só há pouco tempo, já com quase dois meses de ocupação, encontramos no alto do morro um túnel como os de guerrilha - e lá tinha de tudo, fuzis, pistolas, munição, entorpecentes em geral. São coisas que os traficantes deixaram para trás na fuga e que imaginavam um dia recuperar. Não vão mais.
Qual o próximo passo?
Implantar projetos sociais, coisas ligadas a esporte, educação, música. Muitos dos policiais da UPP têm formação acadêmica. Há vários formados em educação física, aptos a darem aulas de futebol de salão para as crianças ou de ginástica para os idosos. Só no primeiro dia de inscrições para as aulas de futsal 50 crianças apareceram. Veja: são crianças de uma comunidade pobre que vão aprender a jogar bola com policiais. Eu também procuro passar um pouco das coisas que sei. Estudei percussão na Escola Villa-Lobos e gostaria de ensinar essas crianças a tocarem instrumentos musicais.
Implantar projetos sociais, coisas ligadas a esporte, educação, música. Muitos dos policiais da UPP têm formação acadêmica. Há vários formados em educação física, aptos a darem aulas de futebol de salão para as crianças ou de ginástica para os idosos. Só no primeiro dia de inscrições para as aulas de futsal 50 crianças apareceram. Veja: são crianças de uma comunidade pobre que vão aprender a jogar bola com policiais. Eu também procuro passar um pouco das coisas que sei. Estudei percussão na Escola Villa-Lobos e gostaria de ensinar essas crianças a tocarem instrumentos musicais.
Pesquisas recentes mostram que a aprovação popular às UPPs é muito grande. O senhor acha que é possível reverter completamente a imagem ruim que as pessoas têm da polícia?
Sinto que as coisas estão mudando. Eu mesmo, quando resolvi virar policial, enfrentei resistência. Ouvia as pessoas me chamando de maluco, mas ser policial é algo que está no meu sangue. Meu pai era policial e eu sempre tive paixão pela PM. Vejo que alguns garotos ficam acanhados quando pensam em se tornar policiais. Mas agora é um momento diferente, um momento de renovação da polícia. Estamos trazendo caras novas, atitudes novas. As UPPs estão resgatando o orgulho de 'Servir e Protegir', que é o nosso lema.
Sinto que as coisas estão mudando. Eu mesmo, quando resolvi virar policial, enfrentei resistência. Ouvia as pessoas me chamando de maluco, mas ser policial é algo que está no meu sangue. Meu pai era policial e eu sempre tive paixão pela PM. Vejo que alguns garotos ficam acanhados quando pensam em se tornar policiais. Mas agora é um momento diferente, um momento de renovação da polícia. Estamos trazendo caras novas, atitudes novas. As UPPs estão resgatando o orgulho de 'Servir e Protegir', que é o nosso lema.
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