"A gente mudou de opressor", disse Mônica Francisco, líder comunitária do Morro do Borel, na Tijuca. Ovacionada pela plateia do seminário “O futuro da UPP: Uma política para todos?”, realizado no Rio de Janeiro em 22 de novembro - véspera da ocupação policial de Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão -, ela verbalizou a angústia de inúmeros moradores de favelas que já têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) instaladas.
Segundo Mônica, havia uma grande ansiedade da comunidade do Borel pela implantação da UPP, porque no imaginário local, o morro Santa Marta era tido como uma "terra prometida", uma "favela modelo". O sonho de libertação, entretanto, não aconteceu.
“Não somos mais a população matável, mas passamos a ser população espancável”, contou Mônica no seminário realizado no Clube de Engenharia e promovido pelo Ibase e a Fundação Heinrich Böll. De acordo com a líder comunitária, a polícia aborda a população local com violência. “Antes era a guerra das facções, agora tenho que ficar me justificando. Já ouvi alguém dizer que se sente em prisão domiciliar", relatou.
Ela vê semelhanças entre a opressão dos traficantes e da polícia. “Antes eu via pichado Comando Vermelho e isso me incomodava. Hoje vejo pichado UPP e acho estranho. Quem viveu na gestão da gerência anterior, não vê marca de diferença, se um usa o mecanismo que o outro usava”, exemplifica.
A líder comunitária garante que os moradores de favelas querem que o projeto dê certo, mas defende que a viabilidade e o sucesso das UPPs depende das relações. Segundo ela, a lógica da polícia é a do controle, baseada num discurso civilizador e uma atuação punitiva. “Não se pode normatizar os sentimentos das pessoas. Quando se tem uma polícia controladora do particular é complicado. Pra quem gosta de funk é ruim não poder ouvir”, explicou.
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