Comandante da PM em Várzea Grande fala das ações de prevenção e repressão aos crimes no município e das ações de 120 dias de comando

ENTREVISTA
Ciclo da droga puxa violência em Várzea Grande

LIDIANA CUIABANO
Assessoria/Sesp-MT
Conhecida por ser a cidade industrial de Mato Grosso, Várzea Grande arrasta, ao longo de anos, altos índices criminais reflexo de uma cidade de entorno, que agrega não apenas o progresso da capital Cuiabá, mas também o ônus de um município canteiro de oportunidades.

Com uma população de quase 256 mil habitantes, o município conta com mais de 200 bairros, sendo 30 catalogados pela Polícia Militar como os mais violentos em registros de homicídio, roubos, furtos e tráfico de drogas.

Há 120 dias no comando e com o desafio de conter os índices da terceira cidade mais violenta de Mato Grosso, o comandante Regional da Polícia Militar de Várzea Grande, tenente-coronel PM Wilquerson Felizardo Sandes, fala nesta entrevista sobre as ações integradas da segurança pública no município e das estratégias de prevenção e repressão qualificada dos crimes como alternativa para redução dos índices em Várzea Grande.

Porque Várzea Grande está sempre no ranking dos municípios mais violentos de Mato Grosso?

Ten. Cel. Wilquerson: separadas geograficamente por pontes, Cuiabá e Várzea Grande carregam consigo efeitos de uma região metropolitana. Além de estar ligada à Capital, Várzea Grande também é porta de entrada para região de fronteira. Hoje temos como os bairros mais críticos os que estão localizados nas proximidades das rodovias e que sofrem com problemas relacionados às drogas. Não há uma variável decisiva para o aumento da criminalidade, uma vez que o fenômeno é aleatório. A maior preocupação do Comando Regional é quanto ao homicídio e latrocínio. Percebemos que a maioria dos casos tem relação ao chamado ‘acerto de contas’, e por isso realizamos ações diferenciadas com foco no combate às drogas na cidade, pois vemos que cada vez que se morre uma pessoa o trafico se fortalece. Não se reduz a violência apenas com o emprego policial. Precisamos de parceria. É necessário um envolvimento de diversos agentes públicos que começa com a rede de proteção a juventude, na escola, à criação de espaços para os jovens, além de definição de limites de funcionamento de locais que envolvam crime, e o endurecimento contra o tráfico de drogas.

Em 10 anos, Várzea Grande registrou quase mil homicídios. A que deve-se esse índice? 

Ten. Cel. Wilquerson: existe uma série histórica estacionária em Várzea Grande dos índices criminais. Não há uma ação específica de intervenção para redução do homicídio, isso é aleatório. O desafio é instituir o índice de violência de Várzea Grande a de uma cidade do interior. Fatores como evasão escolar na faixa entre 12 e 15 anos de idade é um agravante. O perfil do preso em maior quantidade é os que possuem ensino fundamental incompleto. Dificuldade na falta de espaço para juventude no município é outro fator a considerar. O jovem tende a sair da escola e não tem outra ocupação, e é quando muitos deles se envolvem com grupos criminosos. Esses são alguns dos fatores que levam a ignição do homicídio. Quem está matando e morrendo é o jovem. Ou ele é a vítima ou o ator do crime. Temos que desacelerar Várzea Grande nesse contexto e são as ações que estamos fazendo com as operações pontuais que causam o impacto na redução da violência.

A Polícia Militar realiza o trabalho ostensivo e preventivo, porém os números continuam altos. O que o Comando está fazendo para reduzir esses índices?

Ten. Cel. Wilquerson: nos últimos dois anos houve uma queda nos roubos, mas os números são flutuantes. Nossa ideia é pegar os crimes como roubo, furto, homicídio e latrocínio e criar um Índice de Violência Criminalizada, que vai variar de 0 a 1, sendo zero o índice baixo e um o índice alto. Com esse indicador teremos o termômetro da cidade. Hoje estamos trabalhando em seis estratégias de repressão e prevenção qualificada que operam em três vertentes: vítima, criminoso e ambiente. Pelas seis estratégias trabalhamos com o policiamento ostensivo (a pé, ciclístico, aéreo e motorizado) com atendimento do 190, operação de bloqueio, saturação de bairros e emprego da Força Tática. Fazemos também o policiamento orientado para solução de problemas, que são as ações mais pontuais como o projeto Mão Amiga e Comando Móvel. Se identificamos que as causas dos homicídios tem relação com a quantidade de usuários de drogas nas ruas, então precisamos retirá-los das ruas para remover as causas do problema. Estamos realizando também o policiamento comunitário, com objetivo de aumentar a confiança e o apoio da população à polícia na prevenção proativa do crime, com realização de campanha de redução da violência nos bairros e resgate familiar. A ação já está acontecendo nos bairros Parque do Lago, São Mateus e Jardim Imperial. Outra estratégia de atuação é no policiamento orientado pela Inteligência, alternativa utilizada para desarticular ações criminosas mais complexas e no enfrentamento ao roubo, corrupção e tráfico de drogas. Fazemos também a análise criminal dos ‘pontos quentes’, com mapeamento e estatística computadorizada das áreas criticas de Várzea Grande, identificando tendências e padrões como motivação de crimes, locais, hora e dia da semana.

Dentro dessas estratégias, quais são as principais ações do Comando da Polícia Militar em Várzea Grande?
Ten. Cel. Wilquerson: mapeamos 30 bairros considerados mais críticos. Fizemos a Operação Rolo Compressor no combate ao tráfico de drogas, que já resultou no estouro de 132 pontos de drogas. Operação Lei e Ordem, com atores que operam na noite aos finais de semana, para reduzir a violência em Várzea Grande com foco na desordem local, como festas irregulares, bares e jovens nas ruas. Operação Terra e Ar, realizada nos bairros que estão com tendência no aumento da criminalidade. Esses bairros são mapeados e realizamos operação por terra com abordagens, tanto durante o dia quanto a noite, e pelo ar, com apoio do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), no patrulhamento aéreo. Temos também o projeto Mão Amiga, que trabalha na retirada dos usuários de drogas das ruas, com encaminhamento para uma malha de proteção, incluindo internação compulsória. O projeto envolve vários setores municipais e estaduais e já resultou em 30 pessoas encaminhadas, sendo duas internações voluntárias e seis involuntárias. Outra ação é o Comando Móvel, onde uma equipe de 17 policiais fica 24 horas em uma determinada região atuando nas situações de vulnerabilidade social e no combate ao tráfico de drogas. Eles abordam, conversam e interagem com as pessoas do local. É um policiamento de proximidade. O objetivo é a restituição do bairro para a comunidade. A primeira ação do Comando Móvel aconteceu no bairro da Manga, onde os policiais atuaram durante dois meses. Agora será a vez do bairro Costa Verde e Mapim receber o projeto.

Quais os efeitos dessas ações?

Ten. Cel. Wilquerson: o bairro da Manga era um local onde se matava muitos usuários de drogas. Tivemos grandes resultados com a ação do Comando Móvel, como a saída dos traficantes da região, revitalização de áreas do bairro e ações sociais restabelecidas, como as feiras livre, além da redução dos índices de violência. A rua Ademar de Barros, conhecida como ‘Rua do Pó’, no bairro da Manga, era cheia de usuários de drogas e traficantes, e há dois meses que ocupamos o local já alcançamos diversos benefícios. A prefeitura limpou a área, iluminou a rua e cortou árvores que serviam de refúgio para os traficantes e usuários. Foram instaladas câmeras de videomonitoramento na região e estamos levando as faculdades com cursos de Administração para ensinar microempreendedorismo aos moradores do bairro. Hoje temos um resgate social na Manga. As crianças estão brincando nas ruas e as pessoas estão sentando nas calçadas de suas casas. Dia 24 deste mês teremos uma grande ação chamada ‘Eu Amo a Manga’. E nessas ações envolvemos o policial, chamamos atenção para família, igreja, escola, e da prefeitura para atuar na limpeza e iluminação das áreas mais críticas.

Qual a avaliação dos 120 dias de comando na PM de Várzea Grande, e quais as metas?

Ten. Cel. Wilquerson: em quatro meses de comando tivemos 252 pessoas presas em flagrante, 105 armas de fogo retiradas de circulação, 2.176 pessoas conduzidas à delegacia, 132 registros de ocorrências de entorpecentes, 40 pessoas presas por mandado, 181 veículos recuperados e 132 bocas de fumo estouradas. Estabelecemos a meta de estourar mais 300 bocas de fumo. Estamos com uma proposta para a Prefeitura de Várzea Grande para a criação de espaços para que os jovens possam ter alternativas de lazer, esporte, cultura e profissionalização. Também vamos pedir a revitalização das praças que hoje são tomadas pelos usuários de drogas. Percebemos que quando esses espaços públicos são ocupados pela população, afugenta o crime. Continuaremos identificando e atuando nas áreas críticas de Várzea Grande na prevenção e repressão qualificada ao tráfico de drogas, com as operações pontuais numa gestão integrada da segurança pública no município.

Colaboração: Maj PM Ronald/PMPA

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