
Cel Robson Rodrigues/PMERJ
Existe uma crise de identidade dos policiais?
Pois é. A imagem do policial, ou a representação do policial que é construída na sociedade ocidental a partir da indústria cultural, da indústria cinematográfica, é a do policial viril, do conhecedor de armas, do cara que tem uma capacidade física muito grande. Então essa coisa de verbalizar, de mediar, não faz parte dos elementos que formam a imagem do policial na sociedade ocidental.
E essa imagem não faz parte da formação do policial nesse momento?
Isso. E o que acontece é que quando se entra para a polícia muitas vezes já tem isso em mente, porque aquela imagem faz parte do atrativo. E ainda tem um problema, porque estamos em uma transição, não chegamos num paradigma já definido, estamos saindo de um paradigma e tentando criar outro. Há uma crise e nessa crise existem esses conflitos.
A própria formação no Centro de Formação de Praças é um exemplo disso. Os currículos são pertinentes, adequados à filosofia da polícia de proximidade, dos direitos humanos, mas o discurso dos próprios instrutores, aí eu estou incluindo o não verbal, quando são carregados de representações preconceituosas, destrói esse trabalho e pode de alguma forma contribuir para essa percepção que a gente encontrou lá nessas pesquisas.
Então hoje estamos levando toda essa realidade que coletamos por meio dos nossos comandantes de UPP. Nós os tornamos instrutores e eles estão atuando lá no centro de formação de praças, compartilhando a sua experiência prática, o seu conhecimento, os erros e os acertos. Estamos chamando esses policiais de “grupo de talentos”, isto é, policiais que canalizaram essa nova estratégia e filosofia para as suas práticas.
As suas práticas positivas, o seu retorno e a sua eficiência são medidos através dos indicadores que desenvolvemos aqui para a polícia pacificadora. Nós vamos mostrar essa diferença, no sentido da mudança de um paradigma anterior para esse paradigma de proximidade. Assim é que construímos o nosso discurso para lutar contra os discursos contrários, na arena simbólica onde a identidade do policial é formada.
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