UPPs: mudanças devem começar a partir da formação do policial


Entrevista com Cel Robson Rodrigues/PMERJ
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Policiais da UPP, que já estão no campo, têm agido de uma forma eficiente com base nesse novo paradigma?

Isso. Então a gente pega esses policiais talentosos, que estão fazendo a diferença, não só oficiais, mas também o soldado, para ter essa identificação, pois ele vai falar com o próprio soldado que está entrando. Semana passada nós nos reunimos com o comandante do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap) para traçarmos uma estratégia a partir dessas observações. Então são mudanças que vamos fazendo a partir dessas percepções.

E existem outras pesquisas nesse sentido, como a da Fundação Getúlio Vargas. Então isso nos dá a possibilidade de comparar UPP com UPP. Através desses números que são coletados nas pesquisas, eu vou tentar entender ou tentar pelo menos identificar alguns fatores que possam ter correlação com o que foi positivo em uma e nem tão positivo na outra, de acordo com nossos objetivos. Nesse sentido também a pesquisa nos ajuda.


O senhor poderia citar um caso emblemático desta transformação?

A própria major Priscila, então capitão Priscila, como primeira comandante de uma UPP, em conversas com a gente, sempre dizia que não queria ir para UPP. Hoje, o comando de UPP é voluntário, isso eu estabeleci depois que assumi, e ela nunca quis por causa dessas representações. Ela foi por causa do nosso sistema hierárquico. As primeiras semanas para ela foram traumáticas. E ela tinha razão para sentir isso, porque alguns anos antes, ela havia sido sequestrada por criminosos e levada para uma favela. Quando conseguiu se desvencilhar e fugir, se escondeu em uma casa e os moradores não auxiliaram, pelo contrário, a expulsaram da casa com vassouradas e ela foi recapturada pelos bandidos e quase morreu. Numa segunda tentativa, ela conseguiu fugir.

Então ela tinha toda essa animosidade, essa falta de disposição para lidar com aquele que para ela representava o seu algoz, o seu adversário. A partir daí, ela começou a ter uma possibilidade de entender as dinâmicas das comunidades. Ela mesma se transformou, ela transformou as suas representações e começou a gostar daquilo e entendeu que não podia generalizar. E ela se transformou de uma forma intuitiva, porque não existia nenhum programa de formação para isso. Não estava no manual, porque ela foi a primeira.


E este manual já existe?

Hoje nós temos uma sistematização. A gente não está fechando o manual, mas temos os princípios, as orientações e temos essa metodologia aberta com a pedagogia que a gente propõe ser a mais criativa possível. Hoje, nas ações, a gente pode encontrar certo padrão, mas não queremos fechar para não cercear a criatividade individual, o entendimento, a percepção. A gente não pode ter um manual que seja uma camisa de força para a criatividade individual.


A UPP social é urgente para o processo todo dar certo?

Certamente, é um parceiro interessante, mas que ainda está no campo conceitual. Estamos trabalhando, toda sexta-feira temos implantação de UPP social e acredito que em outubro vai haver uma implantação simultânea. A lógica da UPP social vai ao encontro dos nossos objetivos: fazer com que o Estado, que nunca teve legitimidade nesses lugares, se torne presente e ganhe legitimidade.

Antes o Estado chegava como invasor e as políticas públicas não chegavam, ou quando chagavam eram colocadas de uma forma verticalizada, impostas. Então é também estimular a participação democrática para que esse capital social, que varia de comunidade para comunidade, cresça. No processo, a voz das comunidades tem que estar presente.

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