‘Eu levo a minha vida no tatame’

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O Portal UPP RJ percorreu oito comunidades pacificadas para realizar essa série / Gabi Nehring e Bruna Cerdeira
Por Bruna Cerdeira

Rainhas e reis do tatame
Rainhas e reis do tatame

Essa novidade iria deixar o mestre Cartola meio ressabiado, mas ele iria gostar. Sem deixar de lado o pandeiro e a cuíca, os meninos da Mangueira, de um tempo pra cá,  vêm dando um ‘Kaisho uke’* no destino. Lá no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, os garotos deram um ‘Corta Eucalipto’ nas ‘bifurcações’ que a vida dá, numa roda de capoeira. A garotada do Andaraí está mais confiante e disciplinada depois das aulas de Muay Thai, do Soldado Walmor. Agora, depois das UPPs, na ‘guerra’ da vida eles são vencedores. E estão livres para sonhar.
‘Deixa a vida me levar’, que nada. Que perdoe o nosso Zeca, mas, nas comunidades pacificadas, a garotada, agora, é dona do seu destino. Na era das UPPs, um ‘exército’ de campeões de superação, com cerca de 4 mil crianças e adolescentes, entre meninos e meninas, vêm dando um exemplo olímpico. 
Eles são praticantes de oito modalidades de artes marciais (jiu-jitsu, judô, taekwondo, caratê, MMA, boxe, kickboxing e capoeira). O contingente — equivalente a oito batalhões operacionais da Polícia Militar — é liderado por dezenas de professores de artes marciais, policiais militares voluntários, moradores e não moradores também voluntários.
 A multiplicação dos tatames é o resultado da soma de iniciativas individuais e das ações das Secretarias de Estado de Segurança e de Esporte e Lazer, que, por meio do Projeto Rio 2016, ajudam com a doação de tatames, quimonos, luvas, caneleiras, medalhas, troféus, entre outros equipamentos necessários, na missão de pavimentar um futuro de dignidade e esperança para esses jovens, por meio do esporte. Nessas comunidades, onde antes o tráfico arregimentava crianças e jovens, a referência, hoje, é outra.

“Esses projetos, sem sombra de dúvida, ajudam bastante no resgate desses jovens, afinal, o esporte é uma importante ferramenta de inclusão social. Ali, alunos e alunas se divertem, cuidam da sua saúde, ganham perspectiva de vida e, muitas vezes, aprendem o significado de vencer e perder”, afirmou o Secretário de Estado de Segurança, José Mariano Beltrame. 

Beltrame. Projetos contribuem para o resgate de jovens
Beltrame. Projetos contribuem para o resgate de jovens
“Tenho sentido as crianças voltando a olhar para os nossos policiais com orgulho e almejando ser policiais. Por muitos anos, os ídolos das nossas crianças foram os bandidos. Hoje, com a UPP, vemos um ídolo sendo um policial militar e isso é muito importante para nós”, destacou o Secretário de Estado de Esporte e Lazer, André Lazaroni.

Os projetos são importantes ferramentas de integração e aproximação entre os moradores e os policiais, além de colaborarem na formação de jovens cidadãos. Os policiais que hoje estão lotados nas UPPs, trabalham com os princípios da polícia de proximidade, que busca uma parceria com a população e uma atuação baseada no diálogo e no respeito à cultura e às particularidades de cada comunidade. 
“Mais do que revelar talentos, esses projetos esportivos servem, principalmente, para formar cidadãos, pois desenvolvem princípios de solidariedade, trabalho em equipe, disciplina, espírito esportivo e fomentam valores como a ética e a paz. Isso ajuda a fortalecer ainda mais a política de polícia de proximidade, que se baseia na parceira entre a população e as instituições da área de segurança pública”, disse Beltrame.
“O projeto de criação de Centros de Treinamento de Artes Marciais nas comunidades pacificadas está em andamento. Ele será uma parceria da Secretaria com a LBV/ Super Rádio Brasil e a Prime Esportes. O apoio será dado através de mão de obra técnica (professores), equipamentos (tatames, quimonos, luvas, Bobs — bonecos para treinamento — e outros), e eventos (campeonatos). O projeto contemplará todas as unidades pacificadas”, garantiu Andre Lazaroni. 

Lazaroni. Iniciativa contemplará todas as comunidades pacificadas
Lazaroni. Iniciativa contemplará todas as comunidades pacificadas

Ainda segundo o secretário, essa mudança é visível e só é possível graças ao compromisso da sociedade, do Governo, das organizações não governamentais e, também, das parcerias público-privadas e dos próprios policiais lutadores que estão treinando esta garotada.
 “Os nossos policiais militares estão comprometidos com este projeto. A implementação das Unidades de Polícia Pacificadora garante, além de segurança, cidadania. A PM tem nos mostrado que é possível voltar a acreditar nas instituições. Isto tem sido o maior exemplo por onde eu passo”, completou Lazaroni.
 Durante um mês, a reportagem do Portal UPP RJ percorreu oito comunidades para registrar as mudanças e os benefícios que a prática de artes marciais vem promovendo na vida desses jovens. As histórias serão contadas a partir desta quinta-feira, 6 de junho, na série de reportagens "Eu levo a minha vida no tatame", trabalho realizado pela repórter Bruna Cerdeira, com fotos tiradas por ela própria e pelos fotojornalistas Gabi Nehring e Marino Azevedo.

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