A Escola Municipal de Ensino Fundamental
Raimundo Nazaré da Costa, em Salinópolis, nordeste do Pará, recebeu
nesta sexta-feira (14) o projeto Conquistando a Liberdade, da
Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe). Sete
internos do Centro de Recuperação Regional de Salinas, do regime
fechado, participaram do evento. Seis fizeram um mutirão para pintar o
muro, reformar cadeiras escolares e capinar a área externa da escola.
É a terceira vez que o interno André Augusto participa do projeto.
Preso pela segunda vez, o detento diz que participar da ação significa
reconquistar a credibilidade perdida. Aos 30 anos, ele diz que mudou.
“Quando a gente é jovem faz as coisas sem pensar. A vida não é só
adrenalina, é também responsabilidade e trabalho. Quero reconstruir minha família e cuidar dos meus três filhos”, disse.
Fábio Sales, 29 anos, que cumpre pena há quase dois por envolvimento
com o tráfico de drogas, conversou com os alunos no Papo Di Rocha. Ele
disse que conheceu as drogas quando estava na escola e que perdeu tudo
depois que se viciou. “Só dentro da cadeia é que fui perceber o mal que
tinha feito para sociedade”, destacou, lembrando o sofrimento que a mãe
passou. “Ela não sorria, e hoje posso vê-la aqui feliz. Penso muito na
minha esposa e no futuro das minhas filhas”, completou.
Pais de alunos também participaram da programação. A autônoma Maria
Conceição Silva foi a convite da filha, de 12 anos, que estuda na
escola. “É a realidade o que está sendo mostrado para esses jovens aqui
dentro da escola. Vai ser bom para que alguns escutem e mudem de vida”,
disse. A professora de religião Elisabete Moreira também gostou da
iniciativa, que, afirmou, desperta o compromisso, a seriedade e o
respeito dos alunos.
O diretor do centro de
recuperação, Fabrício Martins, contou que no início do projeto os pais
tiveram receio em deixar os filhos perto dos detentos. “No início, por
falta de conhecimento, eles não gostaram muito da ideia, mas depois que
fizemos o primeiro Conquistando a Liberdade, eles começaram a divulgar o
projeto e acompanhar a ação em outras escolas”, contou. O diretor ainda
deixou um alerta aos jovens. “Não pensem que não pode acontecer com
vocês; pode acontecer com qualquer um”, concluiu.
Nesta
sexta-feira, além de Salinas, o projeto também foi a Marituba, na região
metropolitana de Belém, e Paragominas, no nordeste paraense. O
Conquistando a Liberdade ocorre todos os meses, em 16 municípios do
Estado, levando internos que cumprem pena, em regime fechado e
semiaberto, para prestar serviços à sociedade. O trabalho é totalmente
voluntário, e cada três dias de participação equivalem a um a menos na
pena.
Conversa – Uma edição extra
do Papo Di Rocha ocorreu, na manhã desta sexta-feira, na Universidade
Federal Rural da Amazônia (Ufra). Alunos de escolas públicas do bairro
da Terra Firme, em Belém, que são matriculados no programa Pro Paz,
participaram da conversa com a interna Silviane Teixeira, custodiada no
Centro de Reeducação Feminino. O evento atendeu a pedido do Pro Paz,
para encerrar a programação do primeiro semestre do projeto.
Durante a conversa, a interna falou sobre as decepções com a vida
criminosa e as consequências negativas. A família, disse, é o apoio para
a superação dos problemas da vida no cárcere. “O Conquistando a
Liberdade é um projeto que me ajudou muito a perceber o valor das
pequenas coisas, como a minha família, que sempre me amou, e os estudos,
que retomei”, disse. O coordenador do projeto, Adelino Monteiro,
conversou com os alunos e fez uma dinâmica sobre a importância dos
objetivos na vida dos jovens.
Texto:
Timoteo Lopes - Susipe
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