Antropólogo, cientista político e escritor, Luiz Eduardo Soares foi
secretário nacional da Segurança Pública no governo Lula e avalia
possíveis soluções para o aperfeiçoamento da PM.
O POVO -
Em várias partes do Brasil, ganha força a proposta de polícia
comunitária, com formação cidadã. Por que, mesmo assim, não se consegue
uma polícia menos violenta e mais confiável?
Luiz Eduardo Soares -
Quando o policial na rua aplica essa metodologia (policiamento
comunitário), atua como gestor local da segurança. Cabe a ele
diagnosticar a situação, observando, interpretando as informações
levantadas pelas polícias e por instituições de pesquisa. Mapeados os
problemas, planejará ações intersetoriais, envolvendo outros setores do
governo e, dependendo do caso, a participação da comunidade. Essas
tarefas exigem preparo, liderança e liberdade para pensar e agir.
Portanto, a mais efetiva metodologia policial não é viável em uma
estrutura organizacional militar, fortemente hierarquizada, centralizada
e autoritária. O melhor policiamento requer uma organização horizontal,
plástica, criativa, muito flexível. Mudar a formação é decisivo, mas de
que adianta mudar a linha educacional sem transformar a estrutura
organizacional, que impede a aplicação do modelo mais adequado a uma
sociedade democrática e complexa?
OP - Desmilitarizar e unificar as polícias é a saída?
Soares -
É indispensável, mas não suficiente. É preciso reformular toda a
arquitetura institucional da segurança. Por isso, ajudei a formular a
PEC-51, que o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou. Ela propõe
desmilitarização, carreira única em cada polícia, fim da divisão do
ciclo de trabalho policial (não necessariamente a unificação das
polícias) e transferência para os estados do poder de decidir sobre o
modelo mais adequado à sua realidade. Um estado poderia, por exemplo,
criar polícias civis municipais, dedicadas apenas a ilícitos de pequeno
potencial ofensivo.
OP - Há quem defenda
teses mais radicais, de, literalmente, começar as mudanças do zero.
Reconstruir as corporações. Esse tipo de pensamento tem respaldo entre
os que estudam o tema?
Soares - É preciso
desconstituir nossas polícias e construir outras, mas isso tem de ser
feito com prudência para evitar que sejam prejudicados os milhares de
excelentes profissionais que estão nas atuais polícias e para não deixar
a sociedade desprotegida. Por isso, a PEC-51 propõe que a revolução que
estamos defendendo se dê ao longo de vários anos e sempre garantindo
todos os direitos dos policiais.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2013/11/09/noticiasjornalpolitica,3160847/e-preciso-desconstituir-nossas-policias-e-construir-outras.shtml
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