Jornal Diário do Pará
O que é ser policial militar?
“É ter primeiramente o compromisso com a sociedade, estar nas ruas para protegê-la”. Essa foi a resposta de um soldado da PM, ao ser questionado sobre sua profissão. O jovem, que pediu para não ser identificado, tem 28 anos e está há seis na PM.
Hoje, no Pará, cerca de 15 mil homens são responsáveis pela segurança da população, um número ainda insuficiente para um estado de dimensões continentais. De acordo com a própria polícia, o ideal seriam 19 mil militares.
Nas ruas, PMs se veem a cada dia diante de situações cada vez mais complicadas e, com o aumento da criminalidade, muitas vezes são obrigados a escolher entre matar ou morrer.
A instituição, que há alguns anos era vista como exemplo para muitas crianças e adolescentes, hoje já não goza do mesmo prestígio e credibilidade. E nas brincadeiras de ruas de nosso país, o futuro da nação prefere ser o bandido em vez do mocinho.
“Muita gente não dá valor ao policial militar. Tem vezes que os policiais dão sua própria vida pela população e, em troca, a maior parte da sociedade tem discriminação com os policiais militares.”
SEM RECOMPENSA
As palavras do PM refletem o pensamento de muitos da corporação, mas os problemas vão muito além da opinião pública, chegam à esfera política e financeira.
“Nosso trabalho é muito desvalorizado, salário baixo, trabalho precário com viaturas sem combustível. O policial se arma para trabalhar, mas quando termina o serviço ele vai pra casa desarmado. O governo não possibilita que o policial militar tenha a sua arma própria, como permite aos policiais civis”. Ele afirmou ter medo de sair para trabalhar e não voltar para casa com vida.
Salário insuficiente incentiva militares a fazer “bico”
Atualmente, a média do salário de um soldado iniciante gira em torno de R$1.200,00, um valor que é insuficiente para quem arrisca a vida todos os dias e faz com que PM’s, não apenas do Pará, optem pela ilegalidade do serviço sem a farda. “Infelizmente, nossos policiais fazem esse tipo de serviço extra para complementar a renda porque o salário é baixo para o grau de risco que a gente corre no dia a dia. Eu já fiz isso, mas hoje não faço mais. Depois que muitos colegas meus perderam a vida por causa desse tipo de serviço extra, eu parei”.
O caso de policiais assassinados dentro e fora de serviço entra mais uma vez em evidência com a morte do cabo Jairo Correa, ocorrida no dia 18 passado, no Hospital Metropolitano. Jairo era policial há cerca de 15 anos e foi atingido com um tiro na cabeça durante uma abordagem, no bairro do Jurunas.
A situação colocou nas ruas as policias civil e militar, que buscam de forma ininterrupta o possível assassino do PM, identificado como “Nego Bala”. Casos como o do cabo Jairo já não são novidade no estado, mas sempre chamam a atenção pública.
Em um caso mais recente, o cabo Ronildo Moraes Pinheiro, da 1ª Zpol, foi baleado em frente a uma agência bancária. Ronildo é mais um exemplo de policiais que fazem os chamados “bicos” para ganhar um dinheiro extra. Ele fazia a segurança de uma empresária quando foi alvo dos marginais. O cabo levou um tiro na perna e foi operado no PSM do Guamá.
Do início de 2010 até outubro passado, cinco policiais foram assassinados durante o trabalho. Já durante as folgas, esse número foi mais baixo, apenas 3 PMs.
BENEFÍCIOS
O trabalho arriscado estressa famílias inteiras e acaba por destruí-las quando o pai de família, o filho, o irmão, não retorna para casa. Uma triste realidade que o estado tenta amenizar, concedendo alguns benefícios às famílias daqueles que morreram no cumprimento do dever. A promoção pós-morte e a concessão de pensões são as formas mais comuns de “recompensar” as famílias, mas a dor da perda permanece para sempre. Foi assim com a família do Cabo Saulo de Tarso Santos da Silva, de 43 anos.
Saulo estava há 18 anos na polícia militar quando foi assassinado em outubro desse ano. O policial ia para o trabalho quando foi alvo de criminosos.
Até hoje a esposa do policial não conseguiu receber a pensão que tem direito. Com três filhos para criar, a dona de casa Jacicleide Melo da Silva enfrenta não apenas a dor da perda, mas também as dificuldades financeiras deixadas com a morte do marido, que sustentava a casa.
Dados revelam: 84 PMs perderam a vida em serviço
O medo do PM se explica em números. Segundo dados fornecidos pela corregedoria geral da Polícia Militar, de 2007 a outubro de 2010, 84 militares foram vítimas de homicídio, 20 deles durante o serviço, 5 só esse ano, e 64 deles foram assassinados durante as folgas. Mas, na guerra diária entre polícia e bandido, os militares ainda estão em vantagem. Enquanto de 2009 até agora 12 policiais morreram em serviço, 113 civis foram mortos em confrontos com a PM.
Com a falta de estrutura, os policiais acabam procurando outras maneiras de aumentar a renda familiar. Muitos deles morrem fazendo “bicos” como segurança particular, o que, de acordo com o coronel Vladisney Reis da Graça, corregedor geral da PM, é crime.
Para tentar diminuir o número de militares fazendo esse tipo de serviço, o governo do Estado lançou, em fevereiro de 2006, uma lei que permite aos militares o chamado “serviço extra” ou “jornada extra”. São jornadas de trabalho de seis horas, fora de escala, que rendem R$54,00 aos PM. Em tese, a lei deveria resolver o problema, mas não é isso o que acontece. Segundo o soldado entrevistado, cada militar teria direito a oito serviços extras por mês, mas a maioria não tira nem dois. O problema acontece porque esse número de “serviços” é limitado para cada batalhão. “Se o batalhão tem 400 policiais, só recebe 100 serviços extras para dividir entre nós”. (Diário do Pará)
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