UIPP Terra Firme completa 1 ano de parceria com a comunidade



Andréia do Espírito Santo
Da Redação

Esporte, cultura, lazer e educação são os principais aliados da polícia e da comunidade na hora de evitar que crianças e adolescentes façam parte do mundo do crime.

Os projetos podem envolver desde aulas de artes marciais, futebol ou vôlei a aulas de xadrez, dama e até palestras educativas, mostrando os malefícios das drogas. Há ainda quem opte por ajudar os jovens que já cometeram algum ato infracional para que saiam dos centros de recuperação com um novo olhar para a vida.
Um dos locais que integram comunidade e o sistema de segurança pública é a Unidade Integrada Pro Paz (UIPP) da Terra Firme. A coordenadora pedagógica da UIPP Terra Firme, Alvaisa Queiroz, 50 anos, conta que atualmente estão inscritos 420 crianças e adolescentes e são realizados 100 atendimentos semanais. Além disso, o espaço da UIPP, que conta com quadra poliesportiva e sala de aula, ainda é aberto para a comunidade realizar projetos próprios.
"Agora nesse início de mês está calmo porque a quadra está sendo pintada, mas os meninos e meninas contam com programações nas salas, como a aula de xadrez. Aqui eles têm aula de futsal, basquete e vôlei. Inclusão digital, que é a informática educacional. A procura é grande. E vem aumentando em um ano de criação da UIPP. O projeto durante o dia atende crianças de 9 a 16, com esporte e lazer. Mas tem projetos da comunidade em que damos apoio, que é o jiu-jítsu, para os adolescentes, e a dança de salão, para os adultos. Ainda tem aula aeróbica, que já é ministrada pela professora da unidade", comenta.
De acordo com a coordenadora pedagógica, 144 crianças e adolescentes têm aulas de jiu-jítsu. "Muitos que fazem jiu-jítsu dizem que estavam no meio do tráfico, do crime e começaram a fazer parte do projeto e saíram desse mundo. Temos o exemplo de vários que mudaram de vida. Os pais chegam aqui na unidade preocupados com os filhos. Trabalhamos primeiro com uma palestra de acolhimento contando o que é o trabalho, como funciona o Pro Paz, o que podemos fazer. Porque eles querem que os filhos sigam o caminho do bem e não virem bandidos", afirma a coordenadora.

Campeã de jiu-jítsu repassa conhecimentos
Para a instrutora de jiu-jítsu Diná Rodrigues, de 17 anos, praticar um esporte ajuda crianças e adolescentes a sair da rua e não cair no mundo do crime. Ela pratica o esporte desde os 14 anos e é moradora do bairro da Terra Firme, sendo uma dos cinco voluntários que dão aulas dessa arte marcial para crianças e adolescentes da comunidade. As aulas ocorrem segunda, quarta e sexta-feira. São três turmas e os alunos têm de 6 a 17 anos.
Diná conta que fazia a aula em outro projeto social do bairro e há um ano passou a ser instrutora. "Foi no esporte que eu encontrei um objetivo de vida. Eu estudo, tiro boas notas e ainda ajudo as crianças. Agora elas têm disciplina. Eu comecei a fazer jiu-jítsu levada pelo meu tio. Sempre gostei. Se não fosse isso poderia estar igual a muitas meninas da minha rua, que só pensam em namorar e algumas estão grávidas", conta a adolescente, que é campeã brasileira de jiu-jítsu.
Kennaldy da Silva Nascimento, de 13 anos, encontrou na arte marcial uma maneira de sair das ruas. "Antes eu passava o dia inteiro sem fazer nada. Eu ficava na rua e corria riscos. Minhas notas eram baixas. Agora, minhas notas melhoraram. É uma exigência para que eu participe das aulas de jiu-jítsu. Aprendi a ter disciplina, que tem hora para brincar e hora para estudar. Minha mãe passa o dia trabalhando, mas ela é presente em tudo que eu faço e está muito feliz", afirmou o menino que vai cursar a 6ª série no próximo ano.
O menino conta que incentiva os amigos a participar das aulas de jiu-jítsu e das aulas de esporte oferecidas na UIPP. "Eu sou mobilizador. Moro perto da UIPP e estou sempre aqui. Conheci o projeto por meio do meu primo. Ele me disse que as aulas eram legais, que era uma ótima oportunidade".

Garoto troca tempo gasto na rua por xadrez e informática
Para Kaleo Rodrigo Silva de Castro, 12 anos, fazer um atividade esportiva e educativa é melhor do que ficar na rua e correr riscos. "Antes eu passava o dia na rua, quando chegava da escola. Agora posso aprender algo e ainda jogar com meus amigos em um lugar seguro".
Ele é uma das 420 crianças inscritas no Pro Paz da Terra Firme. Como a quadra estava interditada, o menino, que cursa a 6ª série, foi aprender a jogar xadrez. "Eu adoro xadrez. Essas atividades me ajudam na escola. Minhas notas estão ótimas", conta o menino que pensa em fazer algum curso de informática ou tecnologia quando estiver em idade para prestar o vestibular. "Eu gosto de informática também. É muito legal".
Maria das Graças Correa dos Santos também vai para a UIPP. Ela é matriculada no curso de operadora de caixa. "Está sendo ótimo o curso, vai me ajudar a completar a renda familiar. O mais importante é que esses cursos têm contribuído para a comunidade. A violência diminuiu. Agora as mães estão mais tranquilas. Sabem onde os filhos estão e podem descansar. Antes era uma preocupação", comenta.

Defensora auxilia jovens infratores
A defensora pública Kassandra Campos Pinto tem dois projetos voltados aos adolescentes que cumprem medida socioeducativa. Ela comenta que o objetivo é fazer uma transformação social na vida desses meninos e meninas. O primeiro projeto, "Aprendendo a cuidar", é voltado para construir junto aos adolescentes o senso de cuidado com a própria saúde e com o meio em que vivem, seja institucional, familiar ou comunitário.
O outro projeto, denominado "Amigo livro e o despertar para o conhecimento", visa fomentar o interesse pela leitura, trabalhar a oralidade dos jovens, despertar o senso crítico sobre temas que serão escolhidos também por eles, na forma de bate-papo e trabalho em grupo, para que haja melhor aproveitamento das aulas oferecidas.
O projeto funciona na unidade de cumprimento de medida de semiliberdade, no distrito de Icoaraci. "Tais projetos foram idealizados a partir das visitas realizadas nessas unidades e buscam acrescentar uma dinâmica de atividades com os adolescentes que os auxilie no processo de reeducação, contando com a ajuda de parceiros, órgãos públicos ou de iniciativa privada", disse a defensora púbica.

Palestras alertam crianças sobre as drogas e seus malefícios
De acordo com Alvaisa Queiroz, projetos que envolvem esporte e lazer são importantes para afastar crianças e adolescentes do crime e da violência. "As crianças adoram e passam o dia inteiro aqui na UIPP. A comunidade procurou a UIPP e trouxe o projeto. Para eles, é uma atividade importante. Eles têm aula de ping-pong, xadrez, dama. Ver a alegria no olhar, a autoestima renovada e saber que eles estão felizes e fora do crime é muito bom. Os adolescentes contam que saem da rua e ficam livres de confusões. Porque antes ficavam na rua o dia inteiro e poderiam ser levados para um caminho ruim. É uma cultura de paz no bairro. As mães relatam a importância do projeto. Agora, os professores vão entrar em recesso, mas voltam dia 16. No entanto, os projetos da comunidade continuam", explica.
Na unidade as crianças ainda participam de palestras educativas sobre as drogas e seus malefícios. "Mas tem gente que entra sendo encaminhado pela assistência social e pela polícia. Quando tem palestra chamamos os pais para participarem. Quando chegam estão retraídos, mas depois começam a se abrir e relatar o que mudou, o que melhorou na vida deles. Os pais dizem que não existem mais assaltos, assassinatos como antes, que muita coisa mudou, como na passagem Ligação, que é um local perigoso no bairro. Agora tem mais segurança e o relacionamento com a polícia melhorou. As pessoas entram na UIPP despreocupadas, porque antes tinham medo de serem vistas pela polícia por ter feito algo ruim no passado. Fazemos, assim, a prevenção", afirma.
Na UIPP também são oferecidos cursos profissionalizantes para pessoas com 18 anos a 29 anos. "São quatro cursos: mecânico de moto, operador de caixa, auxiliar administrativo e informática básica e avançada. É uma idade em que as pessoas precisam de cursos. Todos contam que gostam muito do curso. São jovens que precisam de oportunidades. Eles cobravam muito esses cursos. Diziam que precisavam para ter uma vida melhor. Porque antes não tinha nenhum curso profissionalizante", acrescenta Alvaisa.

Participação dos pais nas ações é importante
Os pais também acompanham os filhos nas aulas. Para a técnica cultural Claudia Silva, que trabalha na organização dos projetos da UIPP, essa participação é importante. "Eles sabem onde os filhos estão e também participam de outros projetos voltados para os adultos. O acompanhamento mostra que eles se interessam pelo futuro dos filhos. Nós ainda vamos ouvir falar da Terra Firme como um bairro pacificado. Tudo porque pais, filhos, a comunidade, estão unidos com o governo para fazer algo diferente".
Para Fátima Evangelista de Oliveira, 44 anos, levar a neta de 9 anos para a aula de jiu-jítsu é gratificante. "Eu estava procurando um esporte para ela fazer. Não queria que ela ficasse o dia inteiro na rua. Me falaram do jiu-jítsu e inscrevi minha neta. Ela adora e eu sempre estou em todas as aulas", comenta.
Wagner Valino Nascimento, 39 anos, têm dois filhos, uma menina de 12 anos e um menino de 6, fazendo jiu-jítsu no espaço cedido pela UIPP. Ele conta que os sobrinhos também participam das aulas. "Acho importante pela filosofia de vida que é ensinada a quem pratica. Eles ficam longe da violência e podem ter um ótimo futuro, porque o esporte também ajuda nas notas escolares. Eles se dedicam mais", afirma.

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