EXTRAÍDO DO LIVRO "A CASERNA FORA DO SÉRIO"
Um
terceiranista chegou comigo para dizer que eu teria que andar na linha, se não
ele iria me anotar para ficar de licença cassada no final de semana.
- Mas,
eu não estou cometendo nenhuma transgressão, Senhor Aluno! – falei ao aluno do
3º Ano.
- Só que
você não está andando na linha. Ninguém lhe ensinou isso?
- Não,
senhor! – respondi.
- Então,
vá ali perto da parede e ande sobre aquela linha preta. Se sair da linha, vou
lhe anotar, bicho! – ordenou o veterano.
Andar na
linha significava andar sobre uma faixa de lajota preta, no piso, próximo à
parede do corredor da Terceira Companhia. Não tinha como. Nosso ombro batia na
parede e não havia como dar um passo após o outro.
- Não há
como me equilibrar, Senhor Aluno! – informei minha impossibilidade de cumprir a
ordem do terceiranista.
- Cumequié, rapaz? – disse o veterano, com
ar de raiva.
- Não
tem como dar um passo! – insisti.
- Então,
eu vou lhe anotar por descumprimento de ordem de superior hierárquico!
- Sim,
senhor! – respondi disciplinadamente.
E ele
não parou por aí. Noticiou um novo trote.
- Vou
lhe dar mais uma chance para você se redimir comigo, bicho!
- Sim,
senhor!
- Apague
a luz do corredor da Terceira Companhia, agora!
E eu
corri no interruptor mais próximo. Mas, parece que ele ficou aborrecido.
- Tá
ficando doido, bicho!
- Não,
senhor!
- Então,
deixa o terceiranista lhe dar a ordem corretamente. Espere eu terminar de
falar!
- Sim,
senhor!
- Quem
mandou desligar o interruptor?
- Mas, o
senhor não mandou apagar a luz do corredor?
- Só que
eu quero que você apague no sopro, entendeu, bicho?
- Sim,
senhor!
- Então,
assopre!
Fiquei
assoprando e nada da lâmpada apagar.
Depois
de um minuto, o terceiranista se dirigiu pra mim:
- Escuta
aqui, cara. Tu és dos bons, nem aloprou. Gostei de ver. Fica frio. Missão
cumprida. Pode ir. Esquece tudo o que eu te falei e cuida dos meninos no ano
que vem. Tá liberado. Tens cinco segundos para sumir!
E eu saí
num tempo menor do que me foi aprazado. Em cinco segundos eu estava longe
daquele veterano. Pronto para outro trote. Não estava gostando de nada, mas ia
sobrevivendo às brincadeiras dos mais antigos. Era a regra da caserna. A coisa
não parecia séria. Porém, eu tinha que me habituar ou partir para outro
emprego. Mas, lembrava sempre da carta do meu pai, onde ele recomendava:
- Te
segura no pincel que eu vou puxar a escada!
-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
Compre o livro pelo celular:
Acesse Google Play: LIVRO A CASERNA FORA DO SÉRIO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente